"Malícias maluqueiras, e perversidades, sempre tem alguma, mas escasseadas. Geração minha, verdadeira, ainda não eram assim. Ah, vai vir um tempo, em que não se usa mais matar gente... [...] 'Maluqueiras – é o que não dá certo. Mas só é maluqueira depois que se sabe que não acertou!'” (Riobaldo Tatarana) *** "Podem dizer que isto é loucura, mas é somente a mais pura maneira de se amar." (Jorge Mautner)
sábado, 31 de agosto de 2013
Orgasmo
Os cães e os bêbados
uivavam para a lua,
cercada de nuvens
e de sonhos,
brilhantes,
no alto da janela...
Ele chegou, de repente,
batendo a porta
e me chamando de querida...
Fedia a versos e cachaça...
Atravessou,
de mansinho
a cozinha,
e beijou minha nuca,
desfez meu coque,
com o sorriso
e começou,
levemente,
a baixar as mangas
de meu vestido.
Me virei e encarei
primeiro seu queixo,
e depois,
subindo
um pouco
os olhos,
suas olheiras
e sorrisos.
Quando um destes se atrapalhou
entre alguma das piadas,
ou dos beijos,
que jorravam apressados de sua boca,
lhe roubei o cigarro,
que havia acabado de ascender,
e o fiz se sentar.
Estava sentado, na minha frente...
Seu olhar doce estava na altura
de meus seios
e os fuzilavam.
Com um único, silencioso e leve gesto
me despi.
Fiquei nua, de pé,
na sua frente,
esperando que se levantasse
para beijar e amar
cada centímetro de meu corpo
e de minha alma...
E ele se levantou,
e beijou-me
e amou-me
nos amamos...
Nos amamos com um ardor
quase que promiscuo,
não fosse a benção da Lua
brilhante
no alto da janela de cães
e bêbados.
Apoiados na janela
uivamos
e sopramos nuvens
de prazer e paixão.
Após o gozo final,
obsceno e purificador,
se deitou entre minhas cochas,
ascendeu mais um cigarro,
acordou o violão
e se pôs a cantar.
E assim viramos a noite,
nus e entrelaçados
entre a cama e o violão
cantando versos
de cachaça, orgasmos e amor.
22 de Agosto, São Pedro da Serra
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Interminável
Quando era criança
e ia à praia
com meus pais
fazia castelos de areia,
sempre próximos o suficiente
do mar
para que este
viesse e destruísse
tudo
antes do fim.
Podendo, assim,
recomeçar a brincadeira
interminável.
Hoje
não preciso mais
de ajuda
do mar.
Continuo construindo
castelos de areia,
mas sou independente.
Eu mesmo destruo meus sonhos,
cotidianamente.
Recomeçando,
todos os dias,
a ilusão
e a angustia
intermináveis.
Niterói, Morro do Estado, 1 de Agosto de 2013
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