sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O brilho de uma noite de lembranças.

Sobre a mesa, jogados, se viam os livros,
Cigarros, uma garrafa já quase vazia,
vários papeis, com muitos versos incompletos,
e dois sorrisos bêbados e fraternos...

O sol já ia nascendo e o samba sonhado não queria nascer,
no violão a cadência se mostrava uma pequena virgem,
no papel os versos começavam muitas vezes
mas nunca chegavam a lugar algum...
Mas no ar...
Ah, o ar...
O ar estava cheio de poesia.
A fumaça brilhava e anuviava a fraca luz da alvorada,
brilhavam, também, as lembranças e o cansaço...
Brilhava o pouco rum que restava,
brilhavam 15 anos de lembranças...
A noite brilhava, eles brilhavam...
Brilhar...

Os sorrisos da amizade antiga.

Yan Oliveira e Jean Gross
Rio de Janeiro, Jacarepaguá, 26 de Maio de 2012

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Cumpleaños, compañero.

Durma seu sono quieto,
ó bela e triste Ouvidor...
Desculpe nossa barulhenta boemia,
mas hoje é uma noite especial.
Durma quieta, mas ouça nossas canções de vinho,
Se embebede em nossos cigarros
e deixe a fumaça branca da noite
que brilha no luar embalar teu descanso.
Comemoremos!

A falta do beijo da amada pesa,
e minha boca se sente fria de álcool e sono...
Mas o sorriso amigo consola e alegra.
Mais uma noite, mais uma taça,
mais um aniversário, mais um cigarro...

Parabéns meu grande amigo,
Obrigado por estar sempre presente.
Desculpe meus erros e faltas, e cante comigo
Cante nossas estúpidas canções,
perdoe meus versos tortos improvisados neste guardanapo
e o leve-os de lembrança nesse aniversário,
pois eles só querem te desejar paz e felicidade.
A todos nós.

Parabéns e demos mais um trago.



Rio de Janeiro, Centro, 27 de Agosto de 2012

domingo, 26 de agosto de 2012

Geração Perdida.

Queria seguir seu conselho,
parar de amar o passado
e ver que o novo sempre vem...
Mas o novo não chega
e nem tem perspectivas de chegar sem atraso...

O passado parece glorioso,
apesar de reconhecer seus erros...
O futuro parece incerto e, às vezes, até improvável...
Mas essas duas análises partem da mesma causa:
o presente é inexistente.
O que somos? O que nos tornamos?

Juventude alienada,
revolucionários praticistas,
música vazia,
ausência de formulação intelectual,
ausência de intelectuais,
movimentos esvaziados,
controle midiático,
resistência muda,
massa cega
e fantasmas surdos.

Esta é minha geração, esta é a era de Aquários.
Prazer.
Até o prazer é limitado, rotulado, perseguido e escondido.

O sonho da liberdade de consumo,
a diversidade sexual pensada a partir do velho padrão patriarcal,
a poesia, assim como a filosofia, é coisa do passado,
até mesmo para os que amam o passado.
O que é produzido de novo na intelectualidade,
não é mais do que novas formas do velho,
o velho lobo em pele de cordeiro.

O balde de merda é tão grande,
a estagnação pós-moderna prende as mudas tão fortemente,
que antes de se tornarem flores murcham.
E estamos sempre a repetir,
só o que nos resta é repetir
e fazer brotar a partir da repetição critica
a nova rosa vermelha da liberdade.

E lembremos, novamente repetindo, que
“todas as revoluções parecem impossíveis,
até que se tornem inevitáveis.”


Rio de Janeiro, Jacarepaguá, 26 de Agosto de 2012.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

M de menina. M de mulher.

Oh bela menina dos cabelos loiros e encaracolados...
Tão pequenina, tão frágil, tão amável, tão imponente.
Se sonhasse com anjos eles seriam você,
uma criança forte de espírito e com lindas feições...

Mas anjos são sonhos. E o sonho acabou...
Você ainda é tão nova, mas o mundo já te obriga a crescer...
Te obriga a entender e, assim, deixar de acreditar em sonhos...
Anjos não existem.
Papai Noel não existe.
A fada do dente não existe.
Casamentos felizes não existem.
Deus não existe.
Sonhos não existem, até que você os transforme em realidade.

Sei que ainda tem 10 anos e quero poder te proteger,
mas o mundo urge contra você
e grita alto em seus pequenos ouvidos: Cresça!

Cresça, pois tua mãe precisa de você,
Cresça, pois teu pai precisa de você,
Continue pequenina, pois estou aqui para limpar suas lágrimas.

Minha pequena mulher,
Minha grande menina,
me enchas de orgulho
e, independente das urgências que o mundo te cobra,
seja o que tens que ser,
Você.


Rio de Janeiro, Jacarépagua, 12 de Agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O ultimo cigarro

Está entre meus dedos nesse momento, apagado... É o ultimo do maço... Exito em ascendê-lo, tenho medo... Rodo-o lentamente entre meus dedos e no ar, rodo-o em todas as direções, com medo de tomar a atitude decisiva... É a ultima chance, tenho que me decidir, não posso deixar esse momento escapar de meus dedos por medo de não ser a hora certa.

Observo a palma da minha mão e ela não me diz nada... A única certeza em meu futuro são os dedos amarelados e meu instinto autodestrutivo. De qualquer forma, terei que ascender, o maço vermelho já está brilhando no fundo da lixeira e o único lugar que posso te guardar é em meu peito.

A chama inicial parece, por alguns segundos, ser lenta, mas depois da primeira baforada começa a queimar rápido... muito rápido... rápido até demais... Estava certo, ainda não era o momento... mas e agora? Cada segundo que passa estou mais distante do que fui e mais próximo ao que não sei quem sou. A cada instante estou mais perdido nessa fumaça escura e estranha que transformei minha vida. A única luz que vejo é a ponta que queima lentamente em direção ao fim. A chama que se aproxima rápido demais de meus lábios.

Eu sou o fim e este é meu ultimo cigarro. Estou perdido. Como sair dessa solidão se não há mais nenhuma mão envolta da minha? Minha mão não me diz mais nada, meu futuro é incerto, meu olhar confuso e meu peito apertado.

Não posso mais tossir. Não posso mais chorar. Preciso de você, mas te destruí, te queimei completamente e agora tudo que tenho é a fumaça de nossa felicidade. Ainda preciso desse cigarro que queima rápido demais e me destrói lentamente. Meu peito está vazio, como a fumaça que me rodeia. Minhas mãos estão vazias. Minha vida está vazia... E este ainda é meu ultimo cigarro.



Rio de Janeiro, meu banco de madeira, 14 de Agosto de 2012.

domingo, 12 de agosto de 2012

Blow Up.






Tenho tentado ocupar minha mente e abstrair, mas não tenho conseguido. Até o momento, quando estou sóbrio, tudo me parece chato, entediante, repetido e ao mesmo tempo me faz lembrar os problemas... A primeira coisa que me fez viajar foi o filme que acabei de ver: "Blow Up"(1966, Michelangelo Antonioni).

O filme em si é a maior viagem... Não é completamente sem sentido mas dá a impressão de não ter sentido algum... E é exatamente por isso que é bom. É o tipo de filme que não se entende, se sente. O roteiro é interessante, mas fica em segundo plano. O mais importante é o cenário, a fotografia, a iluminação... a áurea do filme. Esse filme não é literatura, é pintura. Ao assisti-lo se sente diante de uma boa pintura abstrata e quente. Um quadro que te inspira tesão, vontade de viver, confusão... e tudo isso ao mesmo tempo, sem se quer te deixar entender da onde vem tantas coisas. Ver o filme é ouvir o silêncio, observar o vazio, entender a loucura... Fica-se cativado e apaixonado pelo nada. É lindo.




Rio de Janeiro, Jacarépagua, 12 de Agosto de 2012


Defunto mascarado.

Cada segundo, cada detalhe,
cada música, cada palavra,
cada vírgula,
cada reticência,
cada instante da minha vida me lembra,
de uma forma ou de outra,
você...

E lembrar você lembra não ter você,
o que, por sua vez,
lembra que viver sem você é cada dia mais impossível...

Mas como vivo,
se cada centímetro de vida
me lembra a todo tempo
que não posso mais viver?
Ai está a questão...

Não vivo,
coloquei uma mascara de sorriso no rosto,
e com ela sigo, sangrando e chorando por dentro,
não vivendo,
mas, sim,
sobrevivendo.


Rio, Jacarepaguá, 12 de Agosto de 2012.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sucumbir

Quando era criança era apaixonado pela palavra Sucumbir...
Não sei se era a fonética,
a morfologia...
Nem sabia o que era isso...
Nem sabia o que era sucumbir...
Só achava a palavra bonita,
com som agradável,
e repetia a cada 5 minutos
nos contextos mais bizarros...

Quando somos pequenos
os significados das palavras pouco importam,
o que importa, assim como nas pessoas,
são sua beleza e simpatia.
Depois crescemos, aprendemos os significados
e então as palavras se tornam apenas palavras...

Hoje não tenho mais nenhum fascínio por Sucumbir,
é apenas uma palavra como outra qualquer,
que só serve para formar versos e sentimentos...
Apesar disso, hoje, não leio essa palavra,
eu a sinto... eu a conheço...

Sinto que nunca estive tão perto do sucumbir.




Niterói, Gragoatá, 7 de Agosto de 2012.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Sobre eu pra você.

Você me reensinou a amar,
mas o monstro que vive dentro de mim estragou tudo...

Você me fez feliz,
mas como tudo que me faz feliz
eu te destruí...

Hoje vivo num turbilhão de sentimentos
que queria te fazer ver e entender,
Mas você não deixa, nem quer, nem pode...
Arrependimento, saudade,
Tristeza, angustia...
Inveja.

Sim, sinto inveja de você.
Sei que você está sofrendo,
mas também estou
e a única coisa em comum
entre nossos sofrimentos é a causa deles: eu.

Sinto inveja, pois te dei motivos pra me odiar,
Dei-te motivos pra me esquecer,
Dei-te motivos pra sentir nojo de mim,
Pra sentir medo de mim, pra sentir raiva de mim...

Mas o que você me deu?
Você só me deu felicidade e surpresas boas,
tranqüilidade e carinho,
apoio e compreensão,
amor e sonhos...
Mas eu destruí tudo e não sei nem mais o que pensar...
Sinto inveja pois você vai conseguir esquecer e ser feliz novamente.

Não sei...
Não entendo...
Nada mais faz sentido... nada mais vale a pena...

Estou perdido e inseguro,
mais do que nunca,
e a única coisa que consigo fazer é te imitar.
Imitar seus sentimentos, seus novos sentimentos, criados por mim.

Você está certa, sou um monstro.
Só queria ter você pra poder voltar a lutar contra ele.
Mas não posso... Só posso te imitar,

E assim vou seguir minha vida.

Sentindo ódio e arrependimento,
nojo e saudades,
medo e tristeza,
raiva e angustia,
toda vez que me olhar no espelho...

Mas sem nunca conseguir esquecer.




Rio, Jacarepaguá, 6 de Agosto de 2012