quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Cega Multidão

A multidão segue caminhando
-inerte, alienada, inacabável, irracionalizada-
sem ao menos perceber,
que ele tenta correr,
no sentido contrário.

Cotoveladas, Ombradas,
Porradas, desanimadas...
E mais ombradas...

Ele resiste,
sozinho.

De vez em quando aparecem outros
tentando seguir a direção contrária,
mas a multidão é tão densa e unificada
que os “do contra” só conseguem olhar para frente...
e ao não olhar para os lados,
não vêem que são iguais
e não conseguem dar as mãos...

Por não se darem as mãos,
acabam todos sendo pisoteados
e –mais cedo ou mais tarde-
ele também será...
Mas por enquanto ele continua tentando
correr, na direção contrária
dos passos calmos dos cegos...

Ele segue solitário,
em meio a multidão
de cotoveladas e ombradas,
carregando nas costas
o imenso peso de uma juventude sem sonhos,
adultos e velhos cansados
e um futuro abortado e pisoteado.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Chuva não mais triste.

Uma chuva rala cai sobre ele.
Atrás do cigarro ele esconde um sorriso,
tentando manter o ar melancólico,
digno de seu oficio...

Por dentro da capa preta
tudo são cores,
tudo são flores...
Está feliz como a muito tempo não estivera...

Está feliz como talvez nunca estivera...
e todos os anseios e angustias,
que antes o incomodavam,
deram lugar a uma única vontade:
tudo que ele quer é que a chuva aumente
pra ele poder cantar e dançar.

sábado, 26 de novembro de 2011

Ao som de Caetano lembro do antigo e eterno amor,
Penso na nova paixão ao ouvir a voz de Chico,
Mas são os quatro garotos de Liverpool que me fazem imaginar,
o futuro onde os dois amores serão um só...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tédio.

Dedico esta canção ao tédio.

O Tédio está em tudo,
Procurando sempre não estar em nada.

O Tédio do vigilante,
que dorme para não ver os horrores do mundo.
O Tédio do Amor,
de dois amantes que sofrem
sem poder viver sem o amor que os protege do maior sofrimento,
a Solidão.
O Tédio do Solitário,
com os dias sempre iguais,
vagando entre as ruas procurando distrações rápidas e vazias.
O Tédio do Sexo,
da prostituta que já viu de tudo
e de tanto não quer mais nada..

O Tédio está em tudo,
Procurando sempre não estar em nada.

O Tédio da diversão,
o tédio dos sorrisos alheios
que me enchem de tédio, inveja e pena.
O Tédio do palhaço, que faz os outros rirem sem ter quem o faça rir.

O Tédio está em tudo,
Procurando sempre não estar em nada.
não ser nada.

Na verdade o Tédio não é nada.
O Tédio não existe,
O Tédio sou eu.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Álvaro de Campos, eu e o menino sem lua.

Chove muito, chove excessivamente
Morros desabam e são reprimidos,
Governos são eleitos para reprimirem mais...
Chove e de vez em quando faz um vento frio
Um menino deitado em sua cama de papelão
se protege do frio com as noticias de ontem...
Chora de medo, tem medo da chuva...
Na verdade o medo é do escuro...
Mas sempre que chove São Pedro apaga seu abajur com as nuvens.
Estou triste, muito triste, como se eu fosse o dia...
O menino que tem medo do escuro das noites de chuva está sempre triste,
mas não pode mais chorar...
Só chora nas noites de chuva,
roubando as lágrimas do céu sem luz do luar...


Num dia do meu futuro em que chova assim também
E eu, à janela, de repente me lembre do dia de hoje,
Pensarei eu "ah, nesse tempo eu era feliz"
Ou pensarei "ah, que tempo triste foi aquele!"

O menino não lembrará desta noite,
mas saberá que a noite foi triste, mesmo sem se lembrar...
Todas as noites são tristes,
mas as de chuva são mais...
Ah, meu Deus, eu que pensarei deste dia nesse dia
E o que serei, e que farei; o que me será o passado que é hoje só presente?...

Ah, meu Deus, será que ainda acreditarei em ti?
As vezes é difícil...
Mas até o menino acredita,
se ele acredita, porque eu não acreditaria?
Talvez seja mais fácil acreditar...


O ar está mais desagasalhado, mais frio, mais triste
O menino continua agasalhado com suas noticias - de ontem -
E continua a chorar, com medo do escuro...
E há uma grande dúvida de chumbo no meu coração...

Muitas dúvidas...

domingo, 6 de novembro de 2011

Sinopse

Se minha vida fosse um filme
seria gravada em preto e branco.

Não o preto e branco dos antigos,
mas o de autores contemporâneos
que sentem que chegaram atrasados pra festas,
melancólicos, depressivos
e eternamente insatisfeitos...

Mas nesse filme haveria, também, cenas coloridas,
com filmagem caseira,
e repletas de sorrisos.
Nessas cenas, entretanto,
mudar-se-ia o protagonista...

Essas cenas seriam os momentos com você.

sábado, 5 de novembro de 2011

Trilogia do Retorno

I.
Ele havia parado de escrever.
Ele havia parado de escrever sobre a vida.
Sobre a sua e sobre a deles...

Havia largado o papel e a caneta
e havia ido viver,
não mais escrever,
a Vida.

Mas a vida lá fora era chata...
Recheada de emoções...
Mas sempre as mesmas emoções,

emoções rotineiras,
rotina emocional...

Percebeu então,
que as emoções precisavam se sentir e se reconhecer enquanto emoções...

A emoção só atinge a consciência emocional acompanhada de caneta e papel.


II.

Abriu a janela,
o sol explodia em seu cérebro...
Após tanto tempo elas estavam de volta...
ele já celebrara funerais...

O sol morreu.
Os malandros saíram à rua (de Honda Civic e com segurança particular).
Mas a chuva continua em sua cabeça...

Sentado em algum canto,
com o caderno no colo,
cigarro escorregando entre os dentes,
caneta na mão...
Escrevia sem parar...
Algumas coisas interessantes, muita coisa ruim...

Foda-se!

Não importa mais se eles vão gostar,
o importante é saber que elas voltaram a interromper seu sono.


III.

Voltaram as olheiras,
Voltaram os banhos corridos –para não esquecer- e o quarto molhado...
“Garçom, uma caneta por favor?”
O guardanapo amassado no bolso também voltara...

Como num filme iam surgindo,
Porém os créditos iam no sentido contrário...

Pronto. Agora sim.

sua carência,
sua insegurança,
suas crises existenciais,
suas alegrias,
seus sonhos,
seu tesão...

Agora as emoções voltaram a se emocionarem.