quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Álvaro de Campos, eu e o menino sem lua.

Chove muito, chove excessivamente
Morros desabam e são reprimidos,
Governos são eleitos para reprimirem mais...
Chove e de vez em quando faz um vento frio
Um menino deitado em sua cama de papelão
se protege do frio com as noticias de ontem...
Chora de medo, tem medo da chuva...
Na verdade o medo é do escuro...
Mas sempre que chove São Pedro apaga seu abajur com as nuvens.
Estou triste, muito triste, como se eu fosse o dia...
O menino que tem medo do escuro das noites de chuva está sempre triste,
mas não pode mais chorar...
Só chora nas noites de chuva,
roubando as lágrimas do céu sem luz do luar...


Num dia do meu futuro em que chova assim também
E eu, à janela, de repente me lembre do dia de hoje,
Pensarei eu "ah, nesse tempo eu era feliz"
Ou pensarei "ah, que tempo triste foi aquele!"

O menino não lembrará desta noite,
mas saberá que a noite foi triste, mesmo sem se lembrar...
Todas as noites são tristes,
mas as de chuva são mais...
Ah, meu Deus, eu que pensarei deste dia nesse dia
E o que serei, e que farei; o que me será o passado que é hoje só presente?...

Ah, meu Deus, será que ainda acreditarei em ti?
As vezes é difícil...
Mas até o menino acredita,
se ele acredita, porque eu não acreditaria?
Talvez seja mais fácil acreditar...


O ar está mais desagasalhado, mais frio, mais triste
O menino continua agasalhado com suas noticias - de ontem -
E continua a chorar, com medo do escuro...
E há uma grande dúvida de chumbo no meu coração...

Muitas dúvidas...

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