terça-feira, 10 de novembro de 2015

O náufrago e a Risada.


Nadava perdido por um oceano
de podridão, rancor e vaidades.
Entre corpos afogados no ego mundano
e ondas imundas de prepotência inimagináveis.
Começava a lembrar de que era humano
e nada conseguiria jamais amenizar
o cansaço daquele esforço insano
que fazia para continuar
seguindo, no lamaçal desumano.
Já cansado de o nada abraçar
pensei em desistir do plano
de escapar deste lugar
e simplesmente parar,
boiando a deriva,
e esperar os tubarões virem me buscar.

Foi então que ela surgiu, flutuando
em uma pequena jangada,
de um duro plástico branco.
Logo me disse apressada
que não havia sentido nadar,
nem boiar, nem tentar rimar.
Não havia como se salvar,
não havia saída daquele mar.
Estávamos presos simplesmente...
Mas era bom não estar sozinha
e ter com quem conversar...

Perguntei quem era ela
e tive como resposta
o som lindo de sua gargalhada.
Me apaixonei pela melodia
das histórias que aquela risada me contava
e por seu modo de viver:
Sempre ali, cortando sozinha
as ondas da hipocrisia,
naquele barco-fardo
de trabalho e poesia.
E suas defesas contra a melancolia,
eram apenas duas:
o serviço mal pago
e o sorriso inapagável.

E que sorriso!
Magnifico e radiante,
inevitavelmente contagiante...
mesmo após os buracos e rugas
enfrentados pela vida,
antes e depois do naufrágio.
Logo percebi, no brilho de seus olhos,
que não passava de uma criança
alegre, corajosa e sabia,
mas tão perdida quanto eu
naquele oceano mesquinho...

Mas continuamos vivos
e seguindo, rindo e cantando,
entre o arrogante silencio
deste mar de ignorância
que os cadáveres boiando,
acéfalos pós-graduados,
ousaram chamar de Universo.


Para Memb, Novembro de 2015

Rio de Janeiro, Jacarépagua
Yan Venturin