quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Favela Colonial






Veredas encurvadas de paralelepípedos
sobem, e descem, e sobem de novo,
bordando e cortando ondas
n’um pacífico mar de morros...

Majestosas, entre vielas e pedras,
vistas por dentro ou de riba,
precipitam-se Igrejas centenárias
alicerçadas em lágrimas,
de ouro e suor chicoteados,
sob o olhar vigilante e desgostoso
de milhares d’Árvores milenares
enraizadas em gritos ancestrais.

Montanhas e matas,
trançadas por auríferos rios
onde Logun Edé fora batizado
e o sangue africano escorrido,
cunhado, para erguer maciços
monumentos (e becos) eternizados...
eternamente belos e amaldiçoados,
de perto vigiados,
pelas matas e morros
que cercam a paisagem,
numa nostálgica revolta.

Empoeirada pelo tempo
e seus ventos de alegre angustia
amarelos e frios como o vil metal...
ecoam vivos, na ventania
e no silencioso coral d’grilos,
cantigas d’fé, paixão e tristeza
da poesia dos pretos antigos
e o sonho enforcado
de (in)certezas esquartejadas
d’um caboclo fugido...
por Oxóssi escondido
e por Oxum velado
ao fim de si mesmo.




Yan Venturin,
Morro de São Sebastião, Ouro Preto,
Carnaval de 2016

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