terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Manhã de Natal: Vícios e Tradições

O sol começa a nascer por detrás das montanhas de sua antiga janela. Coloca a cabeça pra fora e percebe que ao invés de neve e gelo, no chão e nas árvores só se encontrava calor e cocô de cachorro. Nesta manhã de natal, ao invés da liberdade, igualdade, fraternidade e presentes de Papai Noel, encontra-se na rua apenas lixo, pobreza, preconceitos, individualismo e padarias fechadas... e ele só queria fumar aquele cigarro tomando um café... e as padarias continuam fechadas...
Porém ele continua a andar pelas ruas de sua adolescência sem pressa ou destino... forjando, em sua memória, novas tradições que o façam sentir falta de quem não sente, embora devesse... lembrando, e sorrindo, de outras lembranças um pouco mais reais, ainda que destorcidas pelas metamorfoses dos anos... observando todas aquelas portas de metal fechadas...
Portas de metal fechadas protegendo a comida de pessoas com fome... pessoas com fome deitadas nas calçadas, amontoado-se embaixo das poucas marquises que restaram... pessoas com fome que não estão vestidas nem de verde nem de vermelho, apenas de cinza e jornal...
Mas para o sorriso imediato daquele jovem poeta, com roupas também cinzas, porém novas, de óculos escuros, cabelo bagunçado, sem sono ou fome, intelectualizado, comunista, arrogante, meio esquizofrênico, ateu, estudante de Sartre e Brecht... e viciado em café..., a Padaria Pechinchas está aberta...
Aberta e repleta de trabalhadoras, negras e nordestinas, óbvio, mal-humoradas, só por estarem trabalhando no feriado cristão de adoração ao consumismo - e seus santos -, às 7:30 da manhã, e ainda serem obrigadas a desejar “Feliz Natal” para todos aqueles velhos cachaceiros e aquele moleque descabelado e esquisito, nascido dos confins infernais e contraditórios da Academia, que, enquanto faziam seu café, observava o tempo inteiro, fazendo anotações num guardanapo, a frase escrita nas costas de sua camisa (soltando risinhos e palavras chaves): “Jesus te ama”.



Rio de Janeiro, Jacarépagua, 25 de Dezembro de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal... se Deus quiser.

Mata-se por Deus.
Morre-se por Deus.
Morre-se porque Deus
tinha um plano melhor pra sua vida
do que deixá-lo vivo.
Um plano melhor do que deixá-lo viver sua vida.

Negros eram escravizados
por serem filhos do Demônio.
Canhotos eram enforcados,
feiticeiras queimadas
e fieis de outros deuses perseguidos,
tudo em nome do único,
onipotente,
onipresente
e onisciente
Deus.

Aquele que te observa a cada segundo.
Que controla todos os seres humanos feitos marionetes.
Escolhendo quem deve sofrer,
quem deve viver,
quem deve morrer,
quem deve viver bem,
quem deve viver bem até demais
e quem deve apenas sobreviver.

Se duas pessoas do mesmo sexo se amam
elas estão erradas... ou não erradas,
mas fazem algo que não é natural...
Porque?
Porque Deus criou o homem e,
depois, a mulher para construírem uma família
neurótica, possessiva, monogâmica, individualista, machista e heterosexual.
E essa é a vontade de Deus,
o Grande Ditador do Universo,
então deve-se respeitá-la.

Se você se sente insatisfeito com seu salário,
ou suas condições de trabalho,
você também está errado.
Você é pobre porque Deus está te provando,
e te guardando uma vida muito melhor...
pra depois da sua morte.

Portanto, nada melhor para comemorar
o nascimento do filho de Deus
do que encher os bolsos dos grandes empresários,
os escolhidos por Deus
para viverem como antigos deuses gregos.

Feliz Natal!
Isso, é claro, se Deus quiser...

Mas não se esqueça, nunca,
de amar o próximo como a ti mesmo
e, é claro, a Deus acima de todas as coisas.


Rio de Janeiro, Jacarépagua, 24 de Dezembro de 2012

Amor de Mar

Ao pisar na areia,
já senti a velha bossa(nova)
dos poetas do beco
se envolver em minhas veias
e gingarem meu corpo
entre os montinhos, buracos
e lixos da areia...

Olhei pro mar e vi o sorriso de Iemanjá seduzir meu olhar...
Entrei calmo e dengoso...
Chegando do nada,
sorrateiro,
me instaurando feito posseiro
nas ondas e abraços dos cabelos de Mãinha...

Princesa Iná me percebeu,
me recebeu, me envolveu,
me abraçou, me seduziu
e me amou...
Amou-me entre ondas e correntes...
Amou-me com todos seus nomes e personalidades...
de Iemanjá à Poseidon...
me amou de todas as formas que um mar pode amar...
Me fez sentir o calor e a força
das ondas que quebram e morrem...
e a calmaria e o relaxamento de seus nascimentos...
Me deu o prazer fresco da água salgada de seu beijo
e a paz silenciosa de seus ventos e sussurros...
Me amou...

Me amou e foi embora...
Foi embora com o sol...

Se aquietou em seu canto e dormiu...
Me amou e, depois,
me expulsou de sua cama,
com leves chutes de ondas curtas...

Me amou e dormiu...

Me deixando,
sozinho,
aqui,
na areia,
observando um saco
plástico
preto
girar e rodopiar
entre as ondas do ronco de seu sono...


Rio, Praia de Ipanema, 23 de Dezembro de 2012

domingo, 23 de dezembro de 2012

Versos de Pierre

Primeiro comecei a ficar paranóico...
Já não confiar em ninguém...
Amigos, família, mulheres, colegas, companheiros...
Todos eram suspeitos,
todos planejavam algo
mas eu não sabia o que...
De repente percebi...
Entendi...
Conheci, então, o sistema e seus chips...
Suas memórias... Seus espiões... Suas câmeras...
Seus gatos... Seus tumores...
Suas estátuas.

O estudei e o combati,
mas então,
ao perceber que não me controlava mais,
ele começou a me caçar.
Foi então que começou a doença...
As sombras, o negro, as roupas,
Agathe, a morte de Éve, Franchout,
Darbédat, o rahat-lucum, a Recapitulação,
o Tartamudear, o ano de degradação...
O quarto, a cama...

E, então, Éve volta,
com a morte de Agathe,
e me livra do sofrimento...





Niterói, Gragoatá, 20 de Dezembro de 2012-12-22
Em memória de Jean-Paul Sartre e “o quarto”.

O mito de menina

Numa manhã cinzenta
você surgiu como uma loucura repentina...
Por entre tranças de acordes musicais
atravessou as sofridas planícies goianas
me confundindo entre seus mitos e sotaques...

Era um mito... o mito de uma menina loira,
sentada sobre o gramado ainda molhado de sereno,
tocando no violão belas melodias
destoantes com as roucas desafinações de meu cantar.

A Pequena menina dos eternos e sofridos campos goianos
quase me fez crer no conto de fadas do ser.
Mas me desiludi do mito,
e me encantei ainda mais pela realidade,
quando vi uma linda e jovem mulher nadar,
nua, no oceano tão distante de teu olhar...



BR 040, Valparaíso de Goiás, 4 de Dezembro de 2012

Gritos e Montanhas

Olha a janela...
É, essa janela ai do seu lado... essa mesmo...
Está vendo?
Veja o sol se arrumar para dormir,
sentando,
e, depois, deitando-se...
em sua cama montanhosa.

Coloque a cabeça pra fora
e sinta o vento te beijar
e te amar
no escuro...
Grite! Grite seus desejos mais silenciosos e rebeldes...
Grite... grite pras montanhas...
Grite e elas ouvirão...
ouvirão e guardarão...

Grite e guarde...
Guarde o grito da juventude,
nas montanhas do Maranhão,
de Minas, do Rio, do Chile ou de Petrópolis...

Guarde-o nas montanhas de seu coração
e ele virá te buscar no fim da noite,
e virá te dizer que saiu das montanhas
e deixou de ser um sonho...

Guarde o grito da utopia
em sua montanha noturna
e ele virará realidade no nascer do sol.


BR 226, próximo à Barra do Corda-MA, 8 de Dezembro de 2012

Versos da Estrada II

A sabedoria das velhas montanhas de Minas Gerais
inunda as veias de meu cérebro,
trazendo a tristeza e a alegria apática da reflexão...

A ventania entra no ônibus,
ou pela janela,
ou pelas cordas
–sejam as do violão desafinado
ou as roucas vocais-...
Os cheiros do mato e das plantações de milho
que refletem no horizonte
afloram meus sentidos e me prendem em linhas...

Prendem minha atenção em linhas amarelas...
Duas contínuas e infinitas linhas amarelas...
Minha atenção é presa... e um segundo depois se dissipa...

Aqui é o lar dos sem-lar..
A estrada é a mãe de todos os órfãos
de minha geração sem ídolos ou sonhos...

Atravessando o país atrás do nada,
encontrei tudo...
E o Tudo é viajar.


BR 040, próximo à Juiz de Fora-MG, 3 de Dezembro de 2012

Sorriso da Noite

Acordo ouvindo uma gargalhada...
Gargalhada tranqüila e fraternal...
Seu sorriso puro e franco vem me abraçar,
e me dar um beijo de bom dia...
E fica ai dançando e flutuando no ar...

Sorriso sincero e musical
que reflete na noite escura...
Iluminando a estrada,
rodeada de estrelas...
Acalmando corações apaixonados,
enchendo as memórias do caminhoneiro de nostalgia,
secando as lágrimas do menino do sertão
e me acordando com uma gargalhada
pra te contemplar...




BR 226, algum lugar da noite do Maranhão, 8 de Dezembro de 2012

Tocantins

Oh quieta e pobre Tocantins,
filha caçula e esquecida da Mãe Gentil...
Forjaram-lhe a liberdade,
mas esqueceram-se da igualdade e fraternidade...

Oh triste e pobre Tocantins,
Adoece, junto com mãezinha,
num barraco velho que treme,
entre o cerrado e a estrada...


BR153, próximo à Gurupi-TO, 4 de Dezembro de 2012

Sonho silencioso de uma sexta a noite



O sol começa a nascer atrás das montanhas
protegidas pelo Redentor...

Enquanto a luz do sábado começa a ganhar as ruas,
eles estão, de novo, sentados ali naquela sala.
Dois amigos, dois amantes, dois companheiros...
Homem e mulher, mulher e homem...
Sem hierarquia, sem opressão,
sem compromissos, sem tristeza...
E um completa o outro,
criando um novo sentido de vida...

O Martini eleva os pensamentos,
a fumaça faz os olhos arderem,
a tosse rasga o peito,
os olhos conversam e discutem,
sem quebrar o silencio melodioso do fim de noite.

Cinema, Poesia, Sexo, Filosofia, Política...
Todos os assuntos já foram esgotados,
agora só sobrou o silencio...
e a intimidade...
Nada é preciso dizer pois os olhos conversam...




Niterói, Ingá, 1 de Dezembro de 2012

Ventos da Despedida


Enquanto você dorme,
o ônibus atravessa o belo cerrado goiano
que passa rápido pela janela,
atravessando seus sonhos
e iluminando o sorriso sonolento...

Dorme feliz... Leve e tranqüila...
Dorme com preguiça na lembrança de meu ombro,
que eu já vou seguindo estrada
pelos muitos sertões desse país...

E o vento que balança suas tranças
aperta, também, meu peito...
Pois vem chegando a hora de acordar
e seguir estrada... sozinho... sempre sozinho...
Por um momento penso em voltar,
mas um novo vento bate novamente pela janela
e me lembra do velho pássaro Mirôventrini
que não tem ninho nem habitat...
Apenas as asas e o vento do cerrado.



BR 040, próximo à Porangatu-GO, 10 de Dezembro de 2012

sábado, 1 de dezembro de 2012

A natureza e a pobreza na estrada

O sol começa a sair, tímido, por entre as nuvens
e aquece a mata cansada e molhada...
Esse resquício de Mata Atlântica,
Cansada de tantos anos de escravidão e exploração
para sustentar esses frágeis e egocêntricos animais bípedes...
Molhada de chuva, suor e lágrimas...

O sol rompe, revoltoso, as nuvens tristes
e bate nos olhos cansados do viajante...
O astro-rei o acorda para ver aquela beleza esquecida
e aquecer seu peito confuso e apertado...
Ilumina sua mente perdida
entre as curvas da estrada
e a beleza rústica da natureza que luta por sobrevivência...
e da tristeza daquele povo que a explora por subsistência...
e é, também, explorado para lucrar o latifundiário...

E ele segue viagem após surpresas tão boas e lembranças tão tristes...
E ele segue viagem, com a surpresa do sol e a lembrança da chuva...
A surpresa da natureza e a lembrança dos homens...




Em algum lugar do Norte Fluminense, Av. Dutra, 18 de Julho de 2012...

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Felicidade:

Sonho bonito que estarás sempre em meu peito, em minhas lembranças, ao meu lado e no fim do horizonte...

Mas, ainda assim, é melhor viver do que ser feliz.





Niterói, Gragoatá, 29/11/2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um amor sincero.

Seu amor não era bonito,
Nem feio...
Muito menos lindo,
nem, tampouco, pedante...
Nem puro,
nem pecador...
nem talento,
nem técnica...
nem infantilidade,
nem maturidade...

Apenas Sincero.

Um amor sincero, instável e ardente,
Porém carinhoso e presente.
Um amor sincero e natural.

Tinham um amor que não usava perfume,
nem pra seduzir, nem pra sufocar.
Um amor sincero e alado.

Meio amizade, meio tesão, meio irmãos...
Meio carência, meio parceria,
meio arte, meio política,
meio dialética, meio desconstrução,
meio loucura, meio razão...
Um amor de tantas metades
que esqueceu a matemática...

Um amor sincero,
um amor natural,
um amor livre,
um amor Desenhado...

“Desenhar: ato orgástico...
Nas viagens em versos da vida
dançar com o lápis
nos acordes coloridos
da palavra Amizade...”

O amor sincero.

domingo, 25 de novembro de 2012

Utopias noturnas


Uma flor rosa de energia pairava no ar,
semeando amizade e risadas...
O espírito das gerações passadas envolvia
essa nova juventude risonha que canta,
transa, bebe,
fuma, enlouquece,
grita, sonha,
pensa e luta!

Somos as raízes de algo novo,
sugando a energia e o conhecimento da terra,
das tradições de luta, do que já foi feito...
para fazer novamente, melhor e mais forte...
até que os sonhos se realizem e possamos, de fato, viver.

Sejamos a antítese e façamos a síntese.
Cantando e sonhando,
lutando e amando,
rindo e gritando,
até que o sol nasça sobre o mar
transformando a noite apenas em lembranças
e os sonhos em realidade.



Niterói, Ingá, 21 de Dezembro de 2012.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Apelo em tempos de Guerra.

Povo judeu...
Povo triste e cansado...
Obrigaram-te a trabalhar,
te usaram de cobaia,
te chutaram e te mataram...
Separaram tuas famílias,
te prenderam entre muros e ratos,
roubaram tua casa e tuas filhas...
queimaram tua cultura e teus corpos...

Povo triste e cansado...
E com memória curta.
Sofreu tanto e nada aprendeu?
Ou será que aprendeu até demais?
Porque faz com teus irmãos de deserto
o mesmo que os filhos da neve fizeram com você?
Judeus, Árabes, Arianos, Cristãos, nada faz sentido...
Somos seres humanos.

E devemos estar ao lado de todos os que sofrem e são perseguidos.
Digamos não ao Holocausto e ao Nazismo.
Digamos não à exploração do povo e ao capitalismo.
Digamos não ao Estado de Israel e às lágrimas dos palestinos.
Digamos não à guerra e suas vitimas.
Digamos não ao sofrimento.
E lutemos, matemos, guerreamos, sim...
mas pela Paz e pela Justiça,
não por uma raça ou religião,
mas pela classe trabalhadora
e por um mundo onde sejamos todos seres humanos
felizes e livres.

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.”


Rio de Janeiro, Jacarépagua, 16 de Novembro de 2012

domingo, 11 de novembro de 2012

A noiva e o pirata.

Teus cabelos ostentam
apagadas cores
de vidas passadas...
Escorregando pela sua pele,
pálida de morte...
Teus olhos vermelhos
inundam o rosto lindo
de dor... Dor de amor correspondido,
maduro, eterno,
porém destruído.

O amor foi destruído
e transformado...
Continuou enorme.
Mas deixou de ser Amor...
Virou vício. Virou dependência.
Virou morte.

Falsa felicidade cínica e dissimulada,
sem ao menos ser obliqua...
Falsa felicidade viciosa,
viciante, vacilante
que corroeu o amor verdadeiro
e assim a vida se partiu...
Se partiu em dois grandes símbolos de solidão...

O primeiro: um enorme navio pirata
vagando, voando e naufragando pelo mundo,
e, o outro, em terra, tu: a linda noiva,
em coma na noite de núpcias,
à espera de seu príncipe pirata
que dormirá eternamente no fundo do mar.
E nunca mais virá para dar vida novamente
às muitas cores de teus cabelos.






Niterói, Ingá, 7 de Novembro de 2012

domingo, 28 de outubro de 2012

Névoa.

A fumaça do cigarro
sai de minha mão
e encontra a do incenso
que inunda o quarto,
junto com a calma música antiga.

Paz e morte se misturam no ar,
criando uma névoa branca e hegemônica...
Uma névoa confusa...

Esta Névoa habita em meu peito,
mas, aqui, ao invés de se misturarem,
seus ingredientes se intercalam...
Paz e morte dançam,
cada uma à sua hora,
tocando a trilha sonora de minha
-hora triste, hora louca-
Existência.

Nem paz, nem loucura, nem lágrimas,
só queria, ao menos uma vez,
que essa Névoa fosse feliz.



27 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Jacarépagua.

Versos de Botequim II

Os bêbados jogam sinuca,
a jukebox volta no tempo,
tocando sambas tão -ou mais- antigos quanto ela...
E eu? Eu fumo e observo.

Observo aqueles que,
assim como à Kerouac,
mais me interessam...
Os loucos, os bêbados, as jukeboxes,
os sambas, as garrafas, os velhos...
Os inúteis.
Inúteis para essa sociedade careta,
produtivista e, ironicamente, falida.

Os loucos... Os sábios...
Fumo, observo... Aprendo.

Eles, todos eles,
do dono à jukebox
enchem o bar de alegria...
Uma triste alegria esquecida no passado...
Uma triste alegria esquecida no passado de Malandros e Mulatas...
no passado de noites cheias de estrelas e de serenatas...

O único canto de presente,
o único canto de tristeza,
é o canto em que me escondi.
Esse canto calado em fumaça e versos malfeitos...
Esse canto que chamo de vida.


27 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Jacarépagua.

sábado, 20 de outubro de 2012

A metamorfose de teus olhos

Teus olhos queimavam...
Queimavam com o mais lindo, clichê
e carinhoso fogo de ternura e afeto.
Hoje são apenas uma lembrança triste
de um amor feliz...

Um amor feliz que entre as curvas
e as sombras do labirinto cotidiano,
mudou...
Talvez tenha acabado... Talvez apenas mudado...
Oxalá esteja em metamorfose
para algo melhor e inédito.
Contudo, hoje é, ainda, apenas uma lembrança triste,
dos olhos felizes que me ensinaram a viver novamente.

E o abraço que me aquecia
e me servia de refúgio feliz ao caos?
Ah, Aquele abraço doce e apaixonado,
que me enlaçava e me ensinava a ver o mundo com cores...
e fazia o triste filme em preto e branco de minha vida
se tornar uma comédia romântica para intelectuais.

Esse abraço transformador e sincero,
com cheiro de sexo e lavanda,
se molhou de lágrimas
e se transformou junto com o olhar tristonho
e se tornou compromisso e saudades...
ainda um refugio ao caos,
porém solitário e antigo...
Acima de tudo técnica, como num filme de Truffaut.

Oxalá seja apenas a metamorfose.



Niterói, Ingá, 19 de Outubro de 2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Visita na prisão

Em uma da muitas noites de insônia e escuridão
que tive nos meus tempos de prisão,
cansei de rodar de um lado pro outro em minha cela
e fui fazer algo que me dava enorme satisfação
na minha velha e livre juventude:

Ascendi, lentamente, um cigarro
De fronte pro espelho… como numa tela de cinema…
Contudo, quando encarei aquele olhar,
que me fitava do pequeno e sujo espelho pendurado entre as grades,
reconheci aqueles olhos,
mas não eram os que eu esperava…
não eram os olhos de uma imitação barata
de James Dean ou Che Guevara.

O olhar triste e cansado que me encarava
pertencia a um menino que conheci há muitos anos atrás.
Um menino solitário e calado consigo mesmo…
Para os outros agitado e levado
mas apenas para chamar atenção.

Um menino arteiro e falante,
que o era,
apenas para não deixar que o abandonassem.
Um menino sozinho e perdido.
Um menino condenado a viver a infância na prisão
e a morrer criança sem nunca ter visto uma janela sem grades.



16 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Jacarépagua.

Novos Versos de Grajaú

Antes havia um refugio no passado…
Uma casa velha e aconchegante,
esqucida no tempo…
Um refúguio das loucuras e tempestades do presente,
dos sonhos e das dúvidas do futuro.
Um jardim, um quintal… campos de morango…
Uma rede… Uma vitrola…
Me escondia e me esquecia do mundo,
naquele castelo simples e desbotado,
naquele canto de infancia…

Mas as tempestades cresceram
e o presente voltou no tempo.
As nuvens invadiram os portões da garagem,
a chuva molhou o quintal e os morangos,
todo canto vazio daquele passado anterior a mim
se encheu do meu presente… se encheu da vida que fugia.

Caixas e novas tecnologias,
Conversas e fumaças…

Meu refugio havia sido destruido.
O silencio sumiu, as tintas secaram,
Os morangos apodreceram
e os discos se arranharam.

Minha nostalgia se molhou de lágrimas alheias
e os problemas vieram me buscar…
Os loucos conversavam na sala de estar
e os pulmões se esqueceram de viver,
fazendo os cérebros voltarem a pensar.

O presente estava ali. O futuro também.
E mais uma vez, o passado era apenas isso…
Passado.


13 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Grajaú

Serra Grajaú-Jacarépagua

Todos os sonhos acabam entre as curvas dessa serra
Se desmancham no ar pesado que bate na janela…
A cada curva chega-se mais próximo do caos,
a cada curva o ar fica mais rarefeito,
a escuridão mais próxima
e ao topo nem mais vista temos.

Ah, a vista desta Serra…
Apenas uma lembrança bela e triste,
de outra vista maravilhosa,
a vista colorida e psiquica
do louco por do sol niteroiense.
Mas aqui a vista ainda é bela,
porém fria e triste, sóbria…
e ainda acaba no topo.
E a cada curva o topo está mais próximo, e depois dele a solidão dos prisioneiros…

Todos os sonhos acabam entre as curvas dessa Serra.




6 de Outubro de 2012, Rio, Serra Grajaú-Jacarépagua

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Oração à Santa Maria por liberdade.

Proibiram sua alegria,
Subordinaram sua paz a homens armados
e encheram seu amor de preconceitos
e rótulos.

Você que era tão pura e casta
foi acusada de ser Monstro,
embora seja comprovadamente Medico.

Há séculos sai da terra... sai do barro,
assim como nós, para nos proporcionar a paz.
A inspiração. A felicidade. O amor.

A planta sagrada dos índios e escravos,
a raiz artística de tantas vanguardas,
a diversão de diversas gerações de oprimidos.
A expressão mais pacifica e amorosa
da tranqüila beleza desse mundo...
A Mãe Natureza reduzida a um produto,
mercantilizado por soldados
do terror e da burguesia hipócrita.

Tu que nasceste livre semente,
cresceu beleza natural
e morreu fumaça inspiradora.
Hoje essa fumaça só grita uma coisa,
uma única palavra, um único pedido:
Liberdade!


“When I find myself in times of trouble
Mother Mary comes to me
Speaking words of wisdom:
Let it be…”






Rio de Janeiro, Jacarepaguá, 24 de Setembro de 2012



postado também em: http://culturaverde.org/2012/09/25/poesia-oracao-a-santa-maria-por-liberdade/

domingo, 9 de setembro de 2012

A Casa Amarela.

Entre os prédios altos, modernos e cinzas,
daqueles que arranham céus e rasgam bolsos,
jazia ela... quieta... pura...
Sua pintura amarela havia sido amarelada de tempo e descaso,
Pequenina, gasta, porém linda!

Sua arquitetura colonial, as manchas e os buracos denunciavam sua idade...
Porém entre toda aquela sujeira arrogante e ganância
próprias da arquitetura pós-moderna,
ela parecia uma criança... pura e casta,
inocente e sozinha,
entre as dores e os fedores do mundo.

E por falar em criança...

Justamente no momento que pensava
e escrevia a metáfora pobre e clichê acima
apareceu, para minha surpresa e pasmo,
uma criança de verdade à janela.
Uma menina. Com cachinhos loiros e sorriso largo.

Olhou diretamente pra mim com aquele sorriso lindo e puro,
tentei retribuir, mas a surpresa era tanta
que não consegui... e o dela se apagou.
Então, em um gesto rápido demais para meus olhos emocionados,
sacou um vidro de detergente e coloriu a vizinhança
com milhares de bolhas de sabão.

O sorriso em meu rosto foi instantâneo,
Mas não tão grande e puro quanto o da casa amarela.

Niterói, Estação Hidroviária Araribóia, 6 de Setembro de 2012

sábado, 8 de setembro de 2012

Pedro e Betôvem.

Eram, os dois, artistas... Eram, os dois, artistas de rua. Atores, poetas, malabaristas, músicos, palhaços, artesãos e o que mais desse na telha. Artistas por natureza... e de rua! E não me entenda mal, caro leitor, a redundância é proposital. É preciso que, às vezes, se repita um conceito varias vezes para ficar claro e instintivo ao leitor... E que fique claro e instintivo: não eram artistas quaisquer, eram artistas de rua.

Conheceram-se, e não poderia ser diferente, também na rua. Foi um dia desses, em alguma esquina qualquer, em algum sinal perdido entre as ruas esquecidas e movimentadas do centro da cidade. Trabalhando... Colorindo de arte o cinza e o sujo da metrópole dita maravilhosa.

A amizade foi espontânea e instantânea... E, então, espontaneamente e instantaneamente decidiram começar a trabalhar juntos. Suas artes, contudo, eram diferentes... Nem melhor, nem pior... Apenas... diferentes. Enquanto a arte de Pedro tentava atingir o coração e o sorriso das pessoas, a arte de Betôvem procurava como alvo o cérebro e os braços de seu público itinerante.

Eram artistas diferentes, com propósitos diferentes e histórias diferentes. Por isso suas artes eram diferentes. Sejamos justos e admitamos que houvesse semelhanças e pontos comuns (até por causa do tanto de tempo que trabalharam juntos, é obvio que se influenciaram)... Porém, a principal característica coincidente entre eles é anterior a sua amizade: os dois faziam aquilo por prazer, satisfação, talento, ideologia e necessidade.

E é nesta pedra angular comum que mora a fonte do rio de diferenças. Pedro trabalha pra pagar o aluguel e chamar o camarada de sinal pra tomar uma gelada no final do dia, mas Betôvem nunca podia, pois tinha que ir pra casa ficar com Maria e as crianças. Sua arte tinha seis bocas pra alimentar.

Mas, por favor, não julgue nossos heróis, caro leitor. Nenhum dos dois é melhor ou pior que o outro. São apenas diferentes. Vale lembrar que os dois eram pobres... os dois eram artistas(de rua)... os dois eram artistas pobres. A diferença está, apenas, no fato de que uma pobreza era conseqüência da liberdade, já a outra era de nascença... era conseqüência da existência.

Continuas a querer julgá-los? Se insiste tanto em julgar alguém, meu amigo ou amiga, julgue este que te conta essa história. Nele (ou será em mim, já não sei mais...) falta talento e necessidade... Mas, ainda assim, se pretende um artista, não de rua por covardia, mas não lhe faltam, nem a ele nem a sua suposta arte, a ideologia, a satisfação e, principalmente, o prazer! Julgue então este que conta a história da arte alheia pra tentar transformar em arte sua.

Quanto a Betôvem e a Pedro, caso os encontre por ai em alguma esquina qualquer, em algum sinal perdido entre as ruas esquecidas e movimentadas do centro da cidade, em algum dia desses, pare para ouvir o que sustenta seis bocas e pare, também, para sentir o gosto da liberdade de uma cervejinha no final do dia... não julgue, apenas ouça, sinta e entenda.

E quem sabe, um dia poderei, também, pedir pra não ser julgado... No dia que a coragem me bater a porta e me levar para ser, eu também, um artista de rua. E poderei, então, ao lado de Pedro e Betôvem, colorir de arte o cinza e o sujo das ruas da metrópole dita maravilhosa, e não mais só a tela de meu computador, os ouvidos de meus amigos e de você, meu leitor. Que esse dia chegue, até lá!


Agradeço a Renato Garcia, autor da esquete que inspirou esse texto.

Y.O.
Rio de Janeiro, 6 de Setembro de 2012, Ponte Rio-Niterói

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O brilho de uma noite de lembranças.

Sobre a mesa, jogados, se viam os livros,
Cigarros, uma garrafa já quase vazia,
vários papeis, com muitos versos incompletos,
e dois sorrisos bêbados e fraternos...

O sol já ia nascendo e o samba sonhado não queria nascer,
no violão a cadência se mostrava uma pequena virgem,
no papel os versos começavam muitas vezes
mas nunca chegavam a lugar algum...
Mas no ar...
Ah, o ar...
O ar estava cheio de poesia.
A fumaça brilhava e anuviava a fraca luz da alvorada,
brilhavam, também, as lembranças e o cansaço...
Brilhava o pouco rum que restava,
brilhavam 15 anos de lembranças...
A noite brilhava, eles brilhavam...
Brilhar...

Os sorrisos da amizade antiga.

Yan Oliveira e Jean Gross
Rio de Janeiro, Jacarepaguá, 26 de Maio de 2012

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Cumpleaños, compañero.

Durma seu sono quieto,
ó bela e triste Ouvidor...
Desculpe nossa barulhenta boemia,
mas hoje é uma noite especial.
Durma quieta, mas ouça nossas canções de vinho,
Se embebede em nossos cigarros
e deixe a fumaça branca da noite
que brilha no luar embalar teu descanso.
Comemoremos!

A falta do beijo da amada pesa,
e minha boca se sente fria de álcool e sono...
Mas o sorriso amigo consola e alegra.
Mais uma noite, mais uma taça,
mais um aniversário, mais um cigarro...

Parabéns meu grande amigo,
Obrigado por estar sempre presente.
Desculpe meus erros e faltas, e cante comigo
Cante nossas estúpidas canções,
perdoe meus versos tortos improvisados neste guardanapo
e o leve-os de lembrança nesse aniversário,
pois eles só querem te desejar paz e felicidade.
A todos nós.

Parabéns e demos mais um trago.



Rio de Janeiro, Centro, 27 de Agosto de 2012

domingo, 26 de agosto de 2012

Geração Perdida.

Queria seguir seu conselho,
parar de amar o passado
e ver que o novo sempre vem...
Mas o novo não chega
e nem tem perspectivas de chegar sem atraso...

O passado parece glorioso,
apesar de reconhecer seus erros...
O futuro parece incerto e, às vezes, até improvável...
Mas essas duas análises partem da mesma causa:
o presente é inexistente.
O que somos? O que nos tornamos?

Juventude alienada,
revolucionários praticistas,
música vazia,
ausência de formulação intelectual,
ausência de intelectuais,
movimentos esvaziados,
controle midiático,
resistência muda,
massa cega
e fantasmas surdos.

Esta é minha geração, esta é a era de Aquários.
Prazer.
Até o prazer é limitado, rotulado, perseguido e escondido.

O sonho da liberdade de consumo,
a diversidade sexual pensada a partir do velho padrão patriarcal,
a poesia, assim como a filosofia, é coisa do passado,
até mesmo para os que amam o passado.
O que é produzido de novo na intelectualidade,
não é mais do que novas formas do velho,
o velho lobo em pele de cordeiro.

O balde de merda é tão grande,
a estagnação pós-moderna prende as mudas tão fortemente,
que antes de se tornarem flores murcham.
E estamos sempre a repetir,
só o que nos resta é repetir
e fazer brotar a partir da repetição critica
a nova rosa vermelha da liberdade.

E lembremos, novamente repetindo, que
“todas as revoluções parecem impossíveis,
até que se tornem inevitáveis.”


Rio de Janeiro, Jacarepaguá, 26 de Agosto de 2012.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

M de menina. M de mulher.

Oh bela menina dos cabelos loiros e encaracolados...
Tão pequenina, tão frágil, tão amável, tão imponente.
Se sonhasse com anjos eles seriam você,
uma criança forte de espírito e com lindas feições...

Mas anjos são sonhos. E o sonho acabou...
Você ainda é tão nova, mas o mundo já te obriga a crescer...
Te obriga a entender e, assim, deixar de acreditar em sonhos...
Anjos não existem.
Papai Noel não existe.
A fada do dente não existe.
Casamentos felizes não existem.
Deus não existe.
Sonhos não existem, até que você os transforme em realidade.

Sei que ainda tem 10 anos e quero poder te proteger,
mas o mundo urge contra você
e grita alto em seus pequenos ouvidos: Cresça!

Cresça, pois tua mãe precisa de você,
Cresça, pois teu pai precisa de você,
Continue pequenina, pois estou aqui para limpar suas lágrimas.

Minha pequena mulher,
Minha grande menina,
me enchas de orgulho
e, independente das urgências que o mundo te cobra,
seja o que tens que ser,
Você.


Rio de Janeiro, Jacarépagua, 12 de Agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O ultimo cigarro

Está entre meus dedos nesse momento, apagado... É o ultimo do maço... Exito em ascendê-lo, tenho medo... Rodo-o lentamente entre meus dedos e no ar, rodo-o em todas as direções, com medo de tomar a atitude decisiva... É a ultima chance, tenho que me decidir, não posso deixar esse momento escapar de meus dedos por medo de não ser a hora certa.

Observo a palma da minha mão e ela não me diz nada... A única certeza em meu futuro são os dedos amarelados e meu instinto autodestrutivo. De qualquer forma, terei que ascender, o maço vermelho já está brilhando no fundo da lixeira e o único lugar que posso te guardar é em meu peito.

A chama inicial parece, por alguns segundos, ser lenta, mas depois da primeira baforada começa a queimar rápido... muito rápido... rápido até demais... Estava certo, ainda não era o momento... mas e agora? Cada segundo que passa estou mais distante do que fui e mais próximo ao que não sei quem sou. A cada instante estou mais perdido nessa fumaça escura e estranha que transformei minha vida. A única luz que vejo é a ponta que queima lentamente em direção ao fim. A chama que se aproxima rápido demais de meus lábios.

Eu sou o fim e este é meu ultimo cigarro. Estou perdido. Como sair dessa solidão se não há mais nenhuma mão envolta da minha? Minha mão não me diz mais nada, meu futuro é incerto, meu olhar confuso e meu peito apertado.

Não posso mais tossir. Não posso mais chorar. Preciso de você, mas te destruí, te queimei completamente e agora tudo que tenho é a fumaça de nossa felicidade. Ainda preciso desse cigarro que queima rápido demais e me destrói lentamente. Meu peito está vazio, como a fumaça que me rodeia. Minhas mãos estão vazias. Minha vida está vazia... E este ainda é meu ultimo cigarro.



Rio de Janeiro, meu banco de madeira, 14 de Agosto de 2012.

domingo, 12 de agosto de 2012

Blow Up.






Tenho tentado ocupar minha mente e abstrair, mas não tenho conseguido. Até o momento, quando estou sóbrio, tudo me parece chato, entediante, repetido e ao mesmo tempo me faz lembrar os problemas... A primeira coisa que me fez viajar foi o filme que acabei de ver: "Blow Up"(1966, Michelangelo Antonioni).

O filme em si é a maior viagem... Não é completamente sem sentido mas dá a impressão de não ter sentido algum... E é exatamente por isso que é bom. É o tipo de filme que não se entende, se sente. O roteiro é interessante, mas fica em segundo plano. O mais importante é o cenário, a fotografia, a iluminação... a áurea do filme. Esse filme não é literatura, é pintura. Ao assisti-lo se sente diante de uma boa pintura abstrata e quente. Um quadro que te inspira tesão, vontade de viver, confusão... e tudo isso ao mesmo tempo, sem se quer te deixar entender da onde vem tantas coisas. Ver o filme é ouvir o silêncio, observar o vazio, entender a loucura... Fica-se cativado e apaixonado pelo nada. É lindo.




Rio de Janeiro, Jacarépagua, 12 de Agosto de 2012


Defunto mascarado.

Cada segundo, cada detalhe,
cada música, cada palavra,
cada vírgula,
cada reticência,
cada instante da minha vida me lembra,
de uma forma ou de outra,
você...

E lembrar você lembra não ter você,
o que, por sua vez,
lembra que viver sem você é cada dia mais impossível...

Mas como vivo,
se cada centímetro de vida
me lembra a todo tempo
que não posso mais viver?
Ai está a questão...

Não vivo,
coloquei uma mascara de sorriso no rosto,
e com ela sigo, sangrando e chorando por dentro,
não vivendo,
mas, sim,
sobrevivendo.


Rio, Jacarepaguá, 12 de Agosto de 2012.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sucumbir

Quando era criança era apaixonado pela palavra Sucumbir...
Não sei se era a fonética,
a morfologia...
Nem sabia o que era isso...
Nem sabia o que era sucumbir...
Só achava a palavra bonita,
com som agradável,
e repetia a cada 5 minutos
nos contextos mais bizarros...

Quando somos pequenos
os significados das palavras pouco importam,
o que importa, assim como nas pessoas,
são sua beleza e simpatia.
Depois crescemos, aprendemos os significados
e então as palavras se tornam apenas palavras...

Hoje não tenho mais nenhum fascínio por Sucumbir,
é apenas uma palavra como outra qualquer,
que só serve para formar versos e sentimentos...
Apesar disso, hoje, não leio essa palavra,
eu a sinto... eu a conheço...

Sinto que nunca estive tão perto do sucumbir.




Niterói, Gragoatá, 7 de Agosto de 2012.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Sobre eu pra você.

Você me reensinou a amar,
mas o monstro que vive dentro de mim estragou tudo...

Você me fez feliz,
mas como tudo que me faz feliz
eu te destruí...

Hoje vivo num turbilhão de sentimentos
que queria te fazer ver e entender,
Mas você não deixa, nem quer, nem pode...
Arrependimento, saudade,
Tristeza, angustia...
Inveja.

Sim, sinto inveja de você.
Sei que você está sofrendo,
mas também estou
e a única coisa em comum
entre nossos sofrimentos é a causa deles: eu.

Sinto inveja, pois te dei motivos pra me odiar,
Dei-te motivos pra me esquecer,
Dei-te motivos pra sentir nojo de mim,
Pra sentir medo de mim, pra sentir raiva de mim...

Mas o que você me deu?
Você só me deu felicidade e surpresas boas,
tranqüilidade e carinho,
apoio e compreensão,
amor e sonhos...
Mas eu destruí tudo e não sei nem mais o que pensar...
Sinto inveja pois você vai conseguir esquecer e ser feliz novamente.

Não sei...
Não entendo...
Nada mais faz sentido... nada mais vale a pena...

Estou perdido e inseguro,
mais do que nunca,
e a única coisa que consigo fazer é te imitar.
Imitar seus sentimentos, seus novos sentimentos, criados por mim.

Você está certa, sou um monstro.
Só queria ter você pra poder voltar a lutar contra ele.
Mas não posso... Só posso te imitar,

E assim vou seguir minha vida.

Sentindo ódio e arrependimento,
nojo e saudades,
medo e tristeza,
raiva e angustia,
toda vez que me olhar no espelho...

Mas sem nunca conseguir esquecer.




Rio, Jacarepaguá, 6 de Agosto de 2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sobre o silêncio ou sobre a vida.

O silêncio desta madrugada é denso.
Tão denso que posso ouvir
o leve barulho do cigarro queimando a cada tragada...
Posso ouvir os leves passos da morte
se aproximando mais a cada tragada...

Já não a temo há muito...
Porém não a espero mais...
Viver ainda é complicado,
mas hoje posso dizer que quero viver...
Mesmo me aproximando mais do fim a cada segundo,
quero viver...
Hoje sinto vontade de viver...

ao seu lado...

Hoje posso dizer que sou feliz.

Rio de Janeiro, Jacarepaguá, 25 de Julho de 2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A natureza e a pobreza na estrada.

O sol começa a sair, tímido, por entre as nuvens
e aquece a mata cansada e molhada...
Esse resquício de Mata Atlântica,
Cansada de tantos anos de escravidão e exploração
para sustentar esses frágeis e egocêntricos animais bípedes...
Molhada de chuva, suor e lágrimas...

O sol rompe, revoltoso, as nuvens tristes
e bate nos olhos cansados do viajante...
O astro-rei o acorda para ver aquela beleza esquecida
e aquecer seu peito confuso e apertado...
Ilumina sua mente perdida
entre as curvas da estrada
e a beleza rústica da natureza que luta por sobrevivência...
e da tristeza daquele povo que a explora por subsistência...
e é, também, explorado para lucrar o latifundiário...

E ele segue viagem após surpresas tão boas e lembranças tão tristes...
E ele segue viagem, com a surpresa do sol e a lembrança da chuva...
A surpresa da natureza e a lembrança dos homens...



Em algum lugar do Norte Fluminense, Av. Dutra, 18 de Julho de 2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Em memória de 23 de Março.

Naquela noite incrível,
descobri novas formas de ser artista...
Nas linhas de teu corpo, li uma carta de amor,
tão poética, apaixonada e apaixonante,
que me levou ao êxtase, muito mais que literário...

Nas muitas cores de seus cabelos
descobri a pintura abstrata de ser feliz
e vencer a solidão.

Com lápis e borracha
rabisquei corações, orgasmos e versos,
com tinta e caneta pintei um novo amor...

Ah... Aquela noite perfeita
à meses passados,
anos ou décadas...
Já nem sei quanto tempo...
Já perdi as contas...

Mas desde aquela noite,
a única coisa que me vem a cabeça,
a única coisa que não larga de meu peito,
a única coisa que sinto vontade de falar,
a todo tempo,
é o mesmo que gritei no fim e no início de tudo...

“Eu amo você”.




Rio de Janeiro, Gamboa, 12 de julho de 2012

domingo, 1 de julho de 2012

Agora.

Nem voltar ao passado,
nem se preocupar com o futuro...
Só o que queria era parar o tempo nesse momento.

Me banhar no oceano de seus olhos,
mergulhar nas perfeitas ondas de seu corpo
e pra sempre contemplar esse sorriso lindo
-quase, mas nunca, esquecido-...

Viver cada segundo deste hoje,
e nunca deixar chegar o amanhã,
esquecendo das responsabilidades do mesmo,
ou as de ontem.
Ser isto, não isso nem aquilo,
Isto.
E viver.

Rio de Janeiro, Castelo, 30 de junho de 2012.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

"Para não esquecer jamais"

Pés
Mãos
Olhos
Mamilos
Irmãos
Mães
Testículos
Filhos
Choques
Pais
Fumaça
Companheiros
Línguas
Camaradas
Orelhas
Vidas.

Mataram tudo e empilharam em valas comuns...
Mataram tudo e jogaram no mar...
Mataram tudo e saíram imunes,
por enquanto....

Mataram tudo...

Mas não mataram as idéias,
Não mataram a coragem,
Não mataram os sonhos...

Não matarão a Juventude!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Caminhada ao Luar.

Caminhando pela noite,
Observava a lua,
grande e bela,
porém, tímida e virgem...
Se escondia por trás dos babados
de seu longo vestido de nuvens escuras.

Pensei no que você falou,
Pensei no seu medo, e senti-o também...
Senti um medo estranho, novo pra mim,
diferente porém parecido com o seu...
Senti um medo estranho,
que apertou meu peito com força
e o encheu de nuvens brancas...

Senti medo de repetir os erros do passado,
de te prender a mim e fazer seus olhos chorarem,
fazer jorrar lágrimas de sereno,
como as que caiam do céu
e revelavam uma lua cheia e despudorada...

Senti medo de ser quem eu fui
e não virar quem eu sou....
Sendo, depois, o que fui, antes.

Com os ombros molhados,
de orvalho e de tristeza,
resolvi voltar pra casa...

Abri a porta com cuidado pra não acordar ninguém
e, na ponta dos pés, corri pro meu quarto,
fugindo do escuro e da solidão...

Ao esvaziar o bolso vi o chocolate
com o qual você me presenteara mais cedo... E então,
como num sorriso que surge de repente,
forçando as bochechas a se abrirem rapidamente,
as nuvens sumiram de meu peito.
E percebi que a noite tinha luar...
E que luar... A maior lua que eu já tinha visto,
uma lua grande e bela,
nem puta nem virgem...
sensata, apaixonada, calada, alegre, independente, perfeita...
O nosso luar.

Percebia que a noite tinha luar,
e nós devíamos aproveitar esse momento,
sem temer as tempestades que ainda nem se formaram,
ou o calor que pode surgir depois do amanhecer.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Verbos e Rimas.

Amar sempre foi um verbo complicado pra mim...
Nunca entendi, ao certo, o que Oswald quis dizer
com seu poema/verso sobre amor.
Aos meus ouvidos, e meu peito,
Amor sempre rimara mais com Dor
do que com Humor.

Na infância aprendi a rimar Amor com Brigas e Solidão.
Já no inicio da minha adolescência cheguei perto do Humor,
mas um humor patético, pastelão...
naquela época rimava Amor com Piadas e Egoísmo.
Ao fim da adolescência e inicio da vida adulta aprendi novas rimas...
Rimei Amor com Sexo, Bipolaridade, Tristeza, novamente Brigas,
Melancolia, Rejeição e, sobretudo, Desapontamento.

E isso parecia a verdade absoluta do verbo Amar.
Até que em fins de fevereiro você surgiu
para me ensinar um novo modo de amar...
Para me ensinar a ser feliz...
Com você estou aprendendo a rimar Amor com Sorrir...
Com você estou aprendendo o verbo Viver.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Cheiro da Vida.

Qual é o cheiro da sua vida?

Ela cheira a esgoto?
Ou cheira a comida?

Cheira a náusea?
Ou cheira a tinta?

Uma vida pode cheirar de varias formas,
à fumaça, à bebida, à fungos, à tesão, à flor ou sangue.
A vida pode ter ainda os cheiros abstratos,
que se sentem com o peito e não com olfato...
Cheiro de dor, de decepção, cheiro de amizade ou de amor, compaixão...

Cheiros puros, cheiros misturados...

Qual é o cheiro da sua vida?

A minha vida tem um cheiro ocre e podre,
Envelhecido e sombrio...
A minha vida tem cheirado à morte.

domingo, 8 de abril de 2012

Pra ti.

Você chegou de repente
e me mostrou que o céu podia ter lua,
era apenas soprar as nuvens com força.

Você se aninhou em meus braços
e fez meus olhos brilharem de novo.

Percebi que meus olhos ardiam ao sol
e que meu pulmão ofegava.
Meu coração se apertaria novamente
com o medo de te fazer chorar.
Vi que existiam outras lágrimas com as quais me preocupar,
sem ser aquelas que escorriam no espelho.

Agora não adianta mais você fugir,
ou querer mentir, ou diminuir.
Eu te amo e você me ama,
amor e confiança é tudo que importa,
e que eu possa te amar todas as noites e dias.

Por mais que eu queira que seja pra sempre,
a Vida e Vinicius me ensinaram que não há eternidade,
posto que é chama... Apenas a tristeza não tem fim.
Mas enquanto o vento levar nossa pluma pelo ar
não haverá mais lágrimas nem discussões,
e há de ser eterno enquanto dure...
Te amarei todas as noites e dias, longe ou perto,
até que o vento frio que me persegue ao longo da vida,
a leve para longe de mim.


Mas não pensarei nem pensaremos nisso agora...

Eu te amo e você me ama...
Amor e confiança é tudo que importa.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Fim do mundo.

Aquela noite parecia mais um fim de um dia comum. Após o trabalho e a falsa ilusão de esperança e discussões universitárias sobre a “luta revolucionária da classe trabalhadora” num ambiente no qual o trabalhador só conhece quando a novela trás alguma personagem universitária. Enfim voltava pra casa para mais uma noite de sono burguês e sonhos proletários.

Porém o sono chegou antes dele chegar em casa e o ônibus, com seu sacolejo de ninar, o levou ao fim do mundo. O fim do mundo é aqui... Aqui onde as lágrimas são de suor, o cigarro é repelente pra espantar mosquito, o Estado é a milícia e o projeto de cidade é o do tráfico ou do bicho. Aqui onde as drogas libertárias são a opressão e luxo do dono da boca, onde vermelho é a cor de satã, onde poste é coisa rara e sorriso é apenas apelido.

Aqui é o fim do mundo, do mundo de sonhos e tendências, aqui o mundo é material mas não tem nenhuma dialética. Aqui é o mundo real. Aqui é onde o trabalhador brinca de viver entre um turno e outro. Aqui é onde o proletariado sonha... em não perder o emprego e em ter um filho jogador de futebol. Foi naquele lugar sem direções, onde não existe esquerda nem direita, que ele sentiu a dor que corrói o peito do pobre corroer seus olhos de classe média. Enquanto isso seu peito se enchia de raiva e a mente de versos e idéias. Mas no fim só restou desilusão e uma única certeza: a de que alguma coisa devia ser feita, mas isso não partiria da universidade ou de algum debate com parlamentares, a revolução só aconteceria quando seu germe surgisse naquele lugar esquecido. Aquele lugar, que até a lua tinha abandonado, não podia ser apagado da lembrança daqueles que dizem lutar pela classe trabalhadora.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Viagem em versos rebeldes

Quero fazer um poema sobre sacanagem!
Amor?
Eu amo.
Mas não é disso que quero falar...
Quero falar de sacanagem,
safadesa, putaria...
Quero falar sobre sexo selvagem,
trepar, gozar, xingar e amar...
Prazer. Mais carnal e puro possível.
Um tapa na cara...
da cultura politicamente-correta
que destrói o sentimento carnal
e o fluido poético natural.

E nem por isso deixar de amar.

Modernistas, surrealistas, comunistas, anarquistas,
Rockeiros, feministas, homossexuais, dadaístas,
Oprimidos. Todos lutaram contra essa lógica escro...estética
da moral hipócrita e machista,
da ordem frigida e opressora,
que o pseudo-cristianismo cultivou
e o capital regou e cuidou.
E a minha geração?

E nem por isso deixar de amar.

Eu não sou eu,
Nem você é você... Ok!
Mas somos todos parte de um coletivo,
Partes da sociedade, partes da mesma hipocrisia!
É preciso lutar!

E nem por isso deixar de amar.

É preciso derrubar o sistema e suas opressões.
E como disse Paulo:
“En la lucha de classes todas las armas son buenas: Piedras, noches, poemas”

E Foder!

E nem por isso deixar de amar.

sábado, 10 de março de 2012

Novos Horizontes

No seu jogo de sedução
me perdi da solidão...
No meio dos seus esquivos e suas desculpas
eu conheci uma grande amizade
e uma nova forma de desejo.

O velho sofrimento comecei a esquecer,
quando esbarrei no novo sorriso,
o lindo sorriso que me fez respirar novamente
e meu coração ficar mais leve.

Talvez nunca te tenha como quero,
mas sempre terei a capacidade de te fazer sorrir...
Talvez nunca consiga te conquistar,
mas sempre vou ter aquela semana para lembrar...
(a semana em que as suas recusas foram tantas
que me fizeram esquecer aquela recusa fatal.)

Não sei o que vai acontecer agora
que a semana acabou...
Mas sempre terei o que te agradecer.

Você arrebentou as grades, quebrou as correntes,
despiu o luto da viúva e lançou o pássaro...

Me prendeu ao seu sorriso
e me libertou das lágrimas.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Escravo Liberto

Minha vida é inútil.
E assim será...
Sou inútil pois sou escravo.
Escravo de meus desejos
que nunca realizarei...
Escravo de um mundo
onde não existe liberdade,
e se existe ela também é escrava
de sua madrasta Desigualdade.

Morrerei inútil,
mas antes terei três filhos
-úteis-
e vou criá-los
da maneira que não pude ser criado
e assim eles farão o que não pude fazer
na inutilidade desta escrava existência.

O primeiro se chamará Ernesto,
e libertará a humanidade.

A menina se chamará Simone,
e libertará o Amor.

O ultimo será Yago
que libertará a Vida.

E do meu tumulo sentirei orgulho
mas não sentirei liberdade
pois morri Escravo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Tiempo que se recuerde

O brilho do sol reflete em seu cabelo,
enquanto minha mão lhe faz cafuné
e se sente perdida num labirinto
de formas, cores, curvas e densidades...

Sua barba mal feita enfeita o rosto.
Meus olhos estreitos contemplam
a fisionomia, as idéias, o momento...
a música é baixa e os risos altos

E se agora, junto ao sol e ao mar, está desfeito o momento,
e se agora, outros fios a mão acaricia, não importa.
Ainda sinto os dedos me tocarem,
os olhos me contemplarem,
ainda sinto o momento...



Poema de Yan Gabriel de Oliveira e José del Baquerú

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Ode à Lapa.


Ao pisar nesse solo sagrado,
Homenageado por tantos e tantas gerações,
Me arrepio e peço benção.

Aqui, meu cabelo bagunçado e minhas roupas amassadas
não tem diferença.
Aqui, posso ser quem eu quiser,
o que eu quiser,
quando eu quiser,
como eu quiser.

Ó Terra de todas as tribos...
Entre bêbados e patricinhas,
mendigos e malandros,
me sinto bem...

Sento no botequim mais sujo e mais barato,
E, com uma cerveja e um cigarro,
dou a luz a esses versos medíocres,
porém apaixonados.

Olho pro céu
e vejo as estrelas se confundirem com os holofotes
desse templo da Boemia que são os Arcos.

Hoje a Noite ainda não tem Luar,
e talvez nunca mais terá,
mas, finalmente, estou em paz...
No berço do Samba, misturado com Rock
e outras bossas...

Estou em casa,
Estou na Lapa.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Menino Di-Lua.

Na maior parte do tempo,
sinto meu coração vazio,
como um céu sem lua...

O vazio da Lua Nova...
às vezes surge uma felicidade crescente
que, de repente, mingua
-o momento mais doloroso-
antes de chegar a ser cheia, feliz de verdade.

Lua cheia, nunca mais.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Sobre silencio ou sobre nada.

Não durmo mais,
tenho medo de dormir.
Tenho medo de sonhar.
Tenho medo de sonhar que sou feliz...
E, de repente: Acordar.
Acordar e voltar a ser eu
Acordar e voltar a ser o que fui obrigado a ser:
nada.

Não durmo mais.
Não como mais.
Não choro mais.
Apenas fumo.
Fumo e penso.
Penso em nada, penso no vazio...
penso no vazio que é existir
quando não se é nada.

Tudo que ouço é silêncio.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Noite Fraterna




Mais uma noite sem luar,
Mas uma noite diferente...

No lugar de lágrimas: desabafos,
E no lugar de alegrias falsas e momentâneas:
amizade e risos fraternos.

No lugar de música alta e dançante,
algo mais calmo e relaxante...
música nossa... que vinha da sala ou das cordas do violão
e inundava a varanda.

Aquela mesma varanda, já tão acostumada com tristeza e monotonia,
Naquela noite ouvia conversas diferentes
E via uma nova fumaça e novas doses...

Os cigarros e o whisky eram os mesmos,
mas a solidão estava acompanhada
de amigos, risadas e debates.

Amizade.
Amizade Verdadeira.


E nenhum dos três sentiu a falta do luar.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Nova Metamorfose

Queria poder mudar,
não como já mudei, ou estou mudando,
mas, também, fisicamente.

Mudar meu rosto,
mudar meu corpo...
Mais bonito, mais feio... não importa.
Não é esse o objetivo.
Quero apenas mudar.
Não ser mais eu,
mas sendo metade de mim por dentro.

Com uma nova aparência
poderia te conquistar
- sem o prefixo “re”-
usando o que você amava
e escondendo, ou esquecendo,
o que você odeia.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Assassino.

Sou um assassino.
Matei minha própria alma e minha felicidade,
minha vontade de viver, de existir.

Sou um cadáver vivo,
que vaga pela sua existência
acompanhado apenas da culpa de ter assassinado sua alma
e da covardia que me impede de terminar com tudo de uma vez

E assim, nós três vagamos,
sem sentido ou pressa
a espera do inevitável encontro.

Só queria me encontrar mais uma vez com minha felicidade,
Uma ultima noite com minha alma,
iriamos ao cinema, comeríamos sushi,
dançaríamos, ririamos...
Ser feliz por apenas mais uma noite,
me sentir vivo por mais uma noite apenas
e depois voltar para meu canto sombrio da rotina
até o dia que Ela venha buscar o assassino de si mesmo.