terça-feira, 3 de abril de 2012

Fim do mundo.

Aquela noite parecia mais um fim de um dia comum. Após o trabalho e a falsa ilusão de esperança e discussões universitárias sobre a “luta revolucionária da classe trabalhadora” num ambiente no qual o trabalhador só conhece quando a novela trás alguma personagem universitária. Enfim voltava pra casa para mais uma noite de sono burguês e sonhos proletários.

Porém o sono chegou antes dele chegar em casa e o ônibus, com seu sacolejo de ninar, o levou ao fim do mundo. O fim do mundo é aqui... Aqui onde as lágrimas são de suor, o cigarro é repelente pra espantar mosquito, o Estado é a milícia e o projeto de cidade é o do tráfico ou do bicho. Aqui onde as drogas libertárias são a opressão e luxo do dono da boca, onde vermelho é a cor de satã, onde poste é coisa rara e sorriso é apenas apelido.

Aqui é o fim do mundo, do mundo de sonhos e tendências, aqui o mundo é material mas não tem nenhuma dialética. Aqui é o mundo real. Aqui é onde o trabalhador brinca de viver entre um turno e outro. Aqui é onde o proletariado sonha... em não perder o emprego e em ter um filho jogador de futebol. Foi naquele lugar sem direções, onde não existe esquerda nem direita, que ele sentiu a dor que corrói o peito do pobre corroer seus olhos de classe média. Enquanto isso seu peito se enchia de raiva e a mente de versos e idéias. Mas no fim só restou desilusão e uma única certeza: a de que alguma coisa devia ser feita, mas isso não partiria da universidade ou de algum debate com parlamentares, a revolução só aconteceria quando seu germe surgisse naquele lugar esquecido. Aquele lugar, que até a lua tinha abandonado, não podia ser apagado da lembrança daqueles que dizem lutar pela classe trabalhadora.

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