sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

VelhoJou

Tenta se concentrar no livro que deve ler,
Mas não é possível...
Não com esse calor...

Faz um calor inquietante,
que enche a sala
de um cheiro estranho
um mesclado de preguiça e pena...

A preguiça vem do ventilador e da música,
os únicos amigos agradáveis nesse clima...
tão agradáveis que nenhum compromisso
parece mais importante do que a conversa silenciosa,
entre os três amigos...
e de preferencia com o mínimo de movimento e sons possíveis...
apenas versos, pensamentos e olhares.

A pena, vem com o vento quente da janela,
que traz a vista do engarrafamento e do stress urbano...
Pena, dessa sociedade estupida e falida... e seus órfãos.

Estão presentes, também,
no ar úmido e sufocante da sala,
além da preguiça e da pena,
o medo e a inveja...

Medo da certeza sobre o fato de que um dia,
todos ali, o leitor, o ventilador
e a música,
terão que entrar,
querendo ou não,
naquela fila escaldante das ruas metropolitanas.

E, por fim, a inveja...
Uma inveja nostálgica e pedante,
do vaqueiro azulado e imponente
parado a sua frente,
no maço de cigarros de palha..


Cigarro de palha, este,
que enchia os pulmões e a visão
com o gosto de grama,
tão invejado,
do cavalgar calmo,
sereno e rural de VelhoJou.

Contudo, cigarros de palha apagam,
o tempo todo e,
a cada intervalo,
o calor e o caos do engarrafamento invadem,
novamente, a sala.

Niterói, Ingá, 21 de Fevereiro de 2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sobre ele.

Andava sem rumo entre bares e copos
de um bairro nostalgicamente calado,
esquecido entre árvores e praças...
Procurando no olhar de uma loira fria e amarga,
sentada a sua frente,
todas as perdas de seu caminho...

A cada gole ansiava loucamente pela ilusão...
lembrando, para tentar esquecer, os amores passados,
o grande amor de sua viva viuvez
e os três frutos apodrecidos, aparentemente, de uma árvore seca.

Mas, de repente, entre as garrafas da solidão,
surgiu uma surpresa de esperança
e um novo sorriso naquele rosto já tão enrugado de tristeza e decepção...

E, então, que desça mais uma pra comemorar.



Niterói, Ingá, 18 de fevereiro de 2013

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Mais um Carnaval Carioca.

Um Carnaval lindo...
Um carnaval de artes e artistas...
de amigos e famílias...
Famílias... De sangue ou de loucura...
De sangue e de loucura...
De corpo e alma.
Um Carnaval de amigos.

Um carnaval de Iemanjá,
de Ossanha, Marx e Buda...
Um carnaval de Vinicius,
Fransciscos, Wilsons, e Rauls...
Um Carnaval de todos os orixás.

Um carnaval de Vila Isabel,
Mangueira, Leblon, Grajaú e Niterói...
Um carnaval de florestas e Lapas...
Um carnaval de nasceres e pores do sol... de luas
e estrelas... de gargalhadas e sussurros.

Um Carnaval de descobertas e duvidas,
contradições e energias,
pobres e ricos,
cervejas, cafés e guaravitas...
Um Carnaval de amores...
de amigos... de irmãos... de caminhos...
Caminhos que se encontram e se afastam...
ou não.

Um carnaval onde as nuvens continuavam a passar.

Um carnaval do samba, do rock e da bossa...
Um Carnaval de AfroSambas...
Um carnaval de doces e bárbaros,
de praias, cachoeiras e suor...
Um carnaval sem relógios ou celulares....
Um carnaval de encontros.

Um carnaval de muitos carnavais.

Um carnaval de lágrimas,
sorrisos, beijos e abraços.
Um carnaval de secos e molhados...

Um carnaval de abonanças, multidões e amadurecimentos,
sem tempestades ou garoas..

Mais um carnaval carioca...
Mais um quente carnaval carioca...
Mas um carnaval da felicidade...

Um Carnaval lindo.





Niterói, Ingá, 17 de fevereiro de 2013

Niterói, Ingá, 17 de fevereiro de 2013

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Mais um amor de carnaval

Chegou como mais um sorriso tímido,
gingando,
quieto e discreto,
entre os blocos e ruelas
do centro da cidade
naquele segundo dia de carnaval...

Com apenas três ou quatro palavras
o sorriso virou plural e, pouco depois,
mais um beijo ardente de fevereiro
irrompeu entre as ladeiras,
trilhos, paralelepípedos,
poças de mijo e lixo,
curvas e sorrisos de Santa Teresa...

Entidade, esta, que
abençoou aquele beijo,
de espontânea loucura e calor,
sacramentando 4 dias de festa da Carne,
num solstício de prazer e carinho
sob sois e luas repletas de musica,
suor, amor e alegria...

E na quarta de cinzas veio a chuva,
acalmando as brasas,
e uma fumaça quieta e tranquila
deu lugar a loucura convulsiva da paixão.
E os sorrisos se tornaram gargalhadas de cumplicidade.


Rio de Janeiro, Lapa, 10 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Mais uma história de amor proibido.


Filho do Caos com a Lua,
meio irmão da noite,
meio irmão da guerra...

Crescido entre a barbárie,
optou pela revolta,
lutou pela liberdade
e pensou a vida...
Viveu, então.

E como todos que vivem livres e sóbrios,
entre os presos e loucos de nossa época,
enlouqueceu.

Em sua loucura criou um desejo proibido,
um desejo pecador, um desejo de amor...

Amor sujo, imoral, nojento e impossível.
Amor familiar... Incestuoso.

Em sua loucura se apaixonou por sua irmã,
filha de sua mãe...
Se apaixonou pela noite
vestida com flores e ventos do campo
e com ela fugiu,
num estouro suicida de pólvora,
deitado no tapete de estrelas
da sala de estar de sua amada...


Niterói, Ingá, 5 de Fevereiro de 2013

A queda do ator

Coração inundado,
pulmões dilacerados,
um sorriso falso engessado no olhar
e, ainda, os enormes latifúndios de soja
nauseando em seu estomago.

Catástrofes aconteciam nas cidades de sua memória,
e cílios desabavam constantemente
com a enxurrada de verão
que brotava e escorria
no rosto de sua alma.

E então, de repente,
abalos sísmicos invadiram sua postura.
E a mascara caiu junto com as pernas
e o personagem
e ficou ali, paralisado, nu...
no meio do palco de sua vida...
conhecendo aquele novo sentimento chamado vergonha.

Niteroi, Ingá, 5 de Fevereiro de 2013