Tenta se concentrar no livro que deve ler,
Mas não é possível...
Não com esse calor...
Faz um calor inquietante,
que enche a sala
de um cheiro estranho
um mesclado de preguiça e pena...
A preguiça vem do ventilador e da música,
os únicos amigos agradáveis nesse clima...
tão agradáveis que nenhum compromisso
parece mais importante do que a conversa silenciosa,
entre os três amigos...
e de preferencia com o mínimo de movimento e sons possíveis...
apenas versos, pensamentos e olhares.
A pena, vem com o vento quente da janela,
que traz a vista do engarrafamento e do stress urbano...
Pena, dessa sociedade estupida e falida... e seus órfãos.
Estão presentes, também,
no ar úmido e sufocante da sala,
além da preguiça e da pena,
o medo e a inveja...
Medo da certeza sobre o fato de que um dia,
todos ali, o leitor, o ventilador
e a música,
terão que entrar,
querendo ou não,
naquela fila escaldante das ruas metropolitanas.
E, por fim, a inveja...
Uma inveja nostálgica e pedante,
do vaqueiro azulado e imponente
parado a sua frente,
no maço de cigarros de palha..
Cigarro de palha, este,
que enchia os pulmões e a visão
com o gosto de grama,
tão invejado,
do cavalgar calmo,
sereno e rural de VelhoJou.
Contudo, cigarros de palha apagam,
o tempo todo e,
a cada intervalo,
o calor e o caos do engarrafamento invadem,
novamente, a sala.
Niterói, Ingá, 21 de Fevereiro de 2013
"Malícias maluqueiras, e perversidades, sempre tem alguma, mas escasseadas. Geração minha, verdadeira, ainda não eram assim. Ah, vai vir um tempo, em que não se usa mais matar gente... [...] 'Maluqueiras – é o que não dá certo. Mas só é maluqueira depois que se sabe que não acertou!'” (Riobaldo Tatarana) *** "Podem dizer que isto é loucura, mas é somente a mais pura maneira de se amar." (Jorge Mautner)
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