domingo, 28 de outubro de 2012

Névoa.

A fumaça do cigarro
sai de minha mão
e encontra a do incenso
que inunda o quarto,
junto com a calma música antiga.

Paz e morte se misturam no ar,
criando uma névoa branca e hegemônica...
Uma névoa confusa...

Esta Névoa habita em meu peito,
mas, aqui, ao invés de se misturarem,
seus ingredientes se intercalam...
Paz e morte dançam,
cada uma à sua hora,
tocando a trilha sonora de minha
-hora triste, hora louca-
Existência.

Nem paz, nem loucura, nem lágrimas,
só queria, ao menos uma vez,
que essa Névoa fosse feliz.



27 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Jacarépagua.

Versos de Botequim II

Os bêbados jogam sinuca,
a jukebox volta no tempo,
tocando sambas tão -ou mais- antigos quanto ela...
E eu? Eu fumo e observo.

Observo aqueles que,
assim como à Kerouac,
mais me interessam...
Os loucos, os bêbados, as jukeboxes,
os sambas, as garrafas, os velhos...
Os inúteis.
Inúteis para essa sociedade careta,
produtivista e, ironicamente, falida.

Os loucos... Os sábios...
Fumo, observo... Aprendo.

Eles, todos eles,
do dono à jukebox
enchem o bar de alegria...
Uma triste alegria esquecida no passado...
Uma triste alegria esquecida no passado de Malandros e Mulatas...
no passado de noites cheias de estrelas e de serenatas...

O único canto de presente,
o único canto de tristeza,
é o canto em que me escondi.
Esse canto calado em fumaça e versos malfeitos...
Esse canto que chamo de vida.


27 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Jacarépagua.

sábado, 20 de outubro de 2012

A metamorfose de teus olhos

Teus olhos queimavam...
Queimavam com o mais lindo, clichê
e carinhoso fogo de ternura e afeto.
Hoje são apenas uma lembrança triste
de um amor feliz...

Um amor feliz que entre as curvas
e as sombras do labirinto cotidiano,
mudou...
Talvez tenha acabado... Talvez apenas mudado...
Oxalá esteja em metamorfose
para algo melhor e inédito.
Contudo, hoje é, ainda, apenas uma lembrança triste,
dos olhos felizes que me ensinaram a viver novamente.

E o abraço que me aquecia
e me servia de refúgio feliz ao caos?
Ah, Aquele abraço doce e apaixonado,
que me enlaçava e me ensinava a ver o mundo com cores...
e fazia o triste filme em preto e branco de minha vida
se tornar uma comédia romântica para intelectuais.

Esse abraço transformador e sincero,
com cheiro de sexo e lavanda,
se molhou de lágrimas
e se transformou junto com o olhar tristonho
e se tornou compromisso e saudades...
ainda um refugio ao caos,
porém solitário e antigo...
Acima de tudo técnica, como num filme de Truffaut.

Oxalá seja apenas a metamorfose.



Niterói, Ingá, 19 de Outubro de 2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Visita na prisão

Em uma da muitas noites de insônia e escuridão
que tive nos meus tempos de prisão,
cansei de rodar de um lado pro outro em minha cela
e fui fazer algo que me dava enorme satisfação
na minha velha e livre juventude:

Ascendi, lentamente, um cigarro
De fronte pro espelho… como numa tela de cinema…
Contudo, quando encarei aquele olhar,
que me fitava do pequeno e sujo espelho pendurado entre as grades,
reconheci aqueles olhos,
mas não eram os que eu esperava…
não eram os olhos de uma imitação barata
de James Dean ou Che Guevara.

O olhar triste e cansado que me encarava
pertencia a um menino que conheci há muitos anos atrás.
Um menino solitário e calado consigo mesmo…
Para os outros agitado e levado
mas apenas para chamar atenção.

Um menino arteiro e falante,
que o era,
apenas para não deixar que o abandonassem.
Um menino sozinho e perdido.
Um menino condenado a viver a infância na prisão
e a morrer criança sem nunca ter visto uma janela sem grades.



16 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Jacarépagua.

Novos Versos de Grajaú

Antes havia um refugio no passado…
Uma casa velha e aconchegante,
esqucida no tempo…
Um refúguio das loucuras e tempestades do presente,
dos sonhos e das dúvidas do futuro.
Um jardim, um quintal… campos de morango…
Uma rede… Uma vitrola…
Me escondia e me esquecia do mundo,
naquele castelo simples e desbotado,
naquele canto de infancia…

Mas as tempestades cresceram
e o presente voltou no tempo.
As nuvens invadiram os portões da garagem,
a chuva molhou o quintal e os morangos,
todo canto vazio daquele passado anterior a mim
se encheu do meu presente… se encheu da vida que fugia.

Caixas e novas tecnologias,
Conversas e fumaças…

Meu refugio havia sido destruido.
O silencio sumiu, as tintas secaram,
Os morangos apodreceram
e os discos se arranharam.

Minha nostalgia se molhou de lágrimas alheias
e os problemas vieram me buscar…
Os loucos conversavam na sala de estar
e os pulmões se esqueceram de viver,
fazendo os cérebros voltarem a pensar.

O presente estava ali. O futuro também.
E mais uma vez, o passado era apenas isso…
Passado.


13 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Grajaú

Serra Grajaú-Jacarépagua

Todos os sonhos acabam entre as curvas dessa serra
Se desmancham no ar pesado que bate na janela…
A cada curva chega-se mais próximo do caos,
a cada curva o ar fica mais rarefeito,
a escuridão mais próxima
e ao topo nem mais vista temos.

Ah, a vista desta Serra…
Apenas uma lembrança bela e triste,
de outra vista maravilhosa,
a vista colorida e psiquica
do louco por do sol niteroiense.
Mas aqui a vista ainda é bela,
porém fria e triste, sóbria…
e ainda acaba no topo.
E a cada curva o topo está mais próximo, e depois dele a solidão dos prisioneiros…

Todos os sonhos acabam entre as curvas dessa Serra.




6 de Outubro de 2012, Rio, Serra Grajaú-Jacarépagua