terça-feira, 16 de outubro de 2012

Visita na prisão

Em uma da muitas noites de insônia e escuridão
que tive nos meus tempos de prisão,
cansei de rodar de um lado pro outro em minha cela
e fui fazer algo que me dava enorme satisfação
na minha velha e livre juventude:

Ascendi, lentamente, um cigarro
De fronte pro espelho… como numa tela de cinema…
Contudo, quando encarei aquele olhar,
que me fitava do pequeno e sujo espelho pendurado entre as grades,
reconheci aqueles olhos,
mas não eram os que eu esperava…
não eram os olhos de uma imitação barata
de James Dean ou Che Guevara.

O olhar triste e cansado que me encarava
pertencia a um menino que conheci há muitos anos atrás.
Um menino solitário e calado consigo mesmo…
Para os outros agitado e levado
mas apenas para chamar atenção.

Um menino arteiro e falante,
que o era,
apenas para não deixar que o abandonassem.
Um menino sozinho e perdido.
Um menino condenado a viver a infância na prisão
e a morrer criança sem nunca ter visto uma janela sem grades.



16 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Jacarépagua.

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