Em uma da muitas noites de insônia e escuridão
que tive nos meus tempos de prisão,
cansei de rodar de um lado pro outro em minha cela
e fui fazer algo que me dava enorme satisfação
na minha velha e livre juventude:
Ascendi, lentamente, um cigarro
De fronte pro espelho… como numa tela de cinema…
Contudo, quando encarei aquele olhar,
que me fitava do pequeno e sujo espelho pendurado entre as grades,
reconheci aqueles olhos,
mas não eram os que eu esperava…
não eram os olhos de uma imitação barata
de James Dean ou Che Guevara.
O olhar triste e cansado que me encarava
pertencia a um menino que conheci há muitos anos atrás.
Um menino solitário e calado consigo mesmo…
Para os outros agitado e levado
mas apenas para chamar atenção.
Um menino arteiro e falante,
que o era,
apenas para não deixar que o abandonassem.
Um menino sozinho e perdido.
Um menino condenado a viver a infância na prisão
e a morrer criança sem nunca ter visto uma janela sem grades.
16 de Outubro de 2012, Rio de Janeiro, Jacarépagua.
"Malícias maluqueiras, e perversidades, sempre tem alguma, mas escasseadas. Geração minha, verdadeira, ainda não eram assim. Ah, vai vir um tempo, em que não se usa mais matar gente... [...] 'Maluqueiras – é o que não dá certo. Mas só é maluqueira depois que se sabe que não acertou!'” (Riobaldo Tatarana) *** "Podem dizer que isto é loucura, mas é somente a mais pura maneira de se amar." (Jorge Mautner)
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Visita na prisão
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