O sol começa a nascer por detrás das montanhas de sua antiga janela. Coloca a cabeça pra fora e percebe que ao invés de neve e gelo, no chão e nas árvores só se encontrava calor e cocô de cachorro. Nesta manhã de natal, ao invés da liberdade, igualdade, fraternidade e presentes de Papai Noel, encontra-se na rua apenas lixo, pobreza, preconceitos, individualismo e padarias fechadas... e ele só queria fumar aquele cigarro tomando um café... e as padarias continuam fechadas...
Porém ele continua a andar pelas ruas de sua adolescência sem pressa ou destino... forjando, em sua memória, novas tradições que o façam sentir falta de quem não sente, embora devesse... lembrando, e sorrindo, de outras lembranças um pouco mais reais, ainda que destorcidas pelas metamorfoses dos anos... observando todas aquelas portas de metal fechadas...
Portas de metal fechadas protegendo a comida de pessoas com fome... pessoas com fome deitadas nas calçadas, amontoado-se embaixo das poucas marquises que restaram... pessoas com fome que não estão vestidas nem de verde nem de vermelho, apenas de cinza e jornal...
Mas para o sorriso imediato daquele jovem poeta, com roupas também cinzas, porém novas, de óculos escuros, cabelo bagunçado, sem sono ou fome, intelectualizado, comunista, arrogante, meio esquizofrênico, ateu, estudante de Sartre e Brecht... e viciado em café..., a Padaria Pechinchas está aberta...
Aberta e repleta de trabalhadoras, negras e nordestinas, óbvio, mal-humoradas, só por estarem trabalhando no feriado cristão de adoração ao consumismo - e seus santos -, às 7:30 da manhã, e ainda serem obrigadas a desejar “Feliz Natal” para todos aqueles velhos cachaceiros e aquele moleque descabelado e esquisito, nascido dos confins infernais e contraditórios da Academia, que, enquanto faziam seu café, observava o tempo inteiro, fazendo anotações num guardanapo, a frase escrita nas costas de sua camisa (soltando risinhos e palavras chaves): “Jesus te ama”.
Rio de Janeiro, Jacarépagua, 25 de Dezembro de 2012
"Malícias maluqueiras, e perversidades, sempre tem alguma, mas escasseadas. Geração minha, verdadeira, ainda não eram assim. Ah, vai vir um tempo, em que não se usa mais matar gente... [...] 'Maluqueiras – é o que não dá certo. Mas só é maluqueira depois que se sabe que não acertou!'” (Riobaldo Tatarana) *** "Podem dizer que isto é loucura, mas é somente a mais pura maneira de se amar." (Jorge Mautner)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário