quarta-feira, 8 de junho de 2016

Ogunhê! (II)



Quando Pai Ogum pisa na banda
o chão se estremece,
o peito se abranda
e a fé na paz fortalece.
Na ginga do General de Umbanda
dos problemas se esquece,
derruba-se toda demanda
nos atabaques que vibram sua prece...
Ele traz a força e a coragem de Aruanda
pro povo que nesta terra padece
sobre a saudade de Luanda
e a multidão na quermesse..

Protege-nos nas estradas
e nos campos de batalha.
Com o poder de suas espadas,
banhadas a ferro em fornalhas,
deixa completamente despedaçadas
qualquer possibilidade de falha.

Seu amuleto, ao balançar no peito,
quebra as barreira do medo
e encoraja o espírito
a descobrir seu próprio segredo,
a ser seu próprio mito
e encantar-se mais cedo...
Revela no não dito
as palavras mágicas do credo
e com a fumaça de seu pito,
perdoa o branco envergonhado
e purifica a luta do preto.

Unem-se sob a fé do povo perseguido,
cantando juntos ao Santo,
pedindo que o chão batido
não receba mais sangue mulato
e que as utopias do Quilombo escondido
tomem as veias do asfalto
e, enfim, rasguem o pesado fardo
nos libertando em um só grito
do chicote do passado,
do choro de sangue aflito
e do suor que ainda nos é roubado.

Pois, montado em seu cavalo,
o Rei de Irê atravessou o Atlântico,
para libertar seus filhos
negros e brancos
cafuzos ou confusos
da tortura física da chibata
e da pobreza metafísica
do monoteísmo.



Yan Venturin
Junho de 2016
Morro do Estado, Niterói.