Nesta caostrópole
que vivo,
ex-capital da eterna colônia
sob os sete sois do meio-dia
e a sombra da cruz na montanha,
o céu já
despencou
mas ninguém
percebeu...
Mesmo ao
contemplarem,
todas as
noites,
com olhos cegos
as estrelas
amontoadas
em pobres
morros e podres edifícios
sob um vazio
esfumaçado,
daquilo que fora
céu,
mas é apenas
um infinito teto
preto e poluído.
Eu também
não percebia,
até que certa vez
anoiteci longe da
cidade
sob a ausência da lua
nova...
Pude, então,
contemplar
- percebendo o
belo
e compreendendo o
óbvio -
a verdade estrelada
em seu devido
lugar:
de
observador das cabeças
infinito e soberano
sobre noites
silenciosas
e mentes
perdidas.
Em meio à
megalópole celestial
- habitada por belezas reluzentes,
dunas estreladas e anjos cadentes –
encontrei um
pequeno
pedaço sideral
vazio e escuro,
perdido no
horizonte.
Muito
distinto daquela
outra escuridão!
esmagadora e urbana,
a qual cresci encarando:
onipresente
cadáver
reprimindo
de cima
meus versos
noturnos...
Não! Esta
mancha de Nada
não era muda,
nem morta...
Por alguns
minutos quis crer
nesta
comparação equivocada,
enquanto
fixava meus olhos
em sua
direção.
Até que – para meu espanto –
aquela
pequena mancha
rompeu o
silêncio universal
e alcançou meus ouvidos.
Perdoem-me qualquer
heresia,
mas narro: Empiria
– talvez
onírica, mas verídica.
E erética (sem “h”),
pois ouvi: voz
de criança.
alegre mas
assustada,
em pleno
crescimento,
esfomeada
pelo infinito.
Explicou-me
que os seus
eram chamados
pelos ‘meus’
de ‘buracos negros’...
mas o que pensamos
saber
sobre eles, é
menos nada
que os significados
de nós
percebidos
por ela
– a tagarela criança cósmica:
Nós somos o nada
e nada eles
tem de buracos,
ou de vazios.
Sem saber
Estamos apenas
a espera
do
crescimento de minha nova amiga,
para que,
então, ela nos engula
– e, junto
com seus irmãos,
a todo universo...
E então, tudo será ‘buraco
negro’!
Me disse a
criança,
pra que eu contasse
pro’cês
o futuro com que Ela sonhava:
Onde não
haverá mais colônias nem metrópoles...
nem ruas ou
repartições..
nem plantas
nem animais,
nem nuvens
ou estrelas,
nem pastos ou
livros
nem céu nem
terra
nem chão, nem
nada...
Apenas a voz,
viva sobre todo o Nada
daquela
eterna criança,
enfim com a
fome saciada
de tudo engolir...
E ainda prometera:
que nós
– animais da
Dúvida oculta
sob pele de
Razão –
também
estaremos,
enfim,
satisfeitos:
pois só
assim,
após
engolidos pelo Nada,
finalmente
poderemos
contemplar e ser
o que buscamos
por séculos
inventando inutilmente
estandartes transcendentais:
um real Todo
no Kaos.
Niterói, Janeiro de
2017