sábado, 12 de fevereiro de 2011

Meu panorama é outro.

Você diz ser contra todos os preconceitos. Somos todos iguais, negros, brancos, índios, gays, heteros, ateus, católicos, espíritas, protestantes, umbandistas, muçulmanos, ricos e pobres. Você diz que o amor é livre, que o mundo é livre, quem o mercado é livre. Preconceitos são atrasos. Mas mantém escondido no seu interior ao menos um preconceito: o preconceito musical.

Muitas vezes fui recriminado e já fui levado a ter vergonha de admitir, mas hoje não tenho mais: uma das minhas bandas favoritas (ao lado de ícones como Noel, Janis, Bob Marley, Hendrix, Cartola e os garotos de Liverpool) está uma banda da minha geração, de cariocas, chamada Forfun. Mas muitos não entendem e nem querem ouvir ou tentar entender o porquê dessa afirmação.

A trajetória deles muitas vezes se coincide com a minha história. Quando comecei a ouvir Forfun, a uns 6 anos atrás, eles não eram mais do que uma bandinha pré-adolescente com musiquinhas fofas e engraçadinhas, e eu e outros fãs não também esperávamos mais do que isso deles. Porém eu amadureci, os integrantes da banda amadureceram e suas musicas amadureceram. Só que muitos até hoje os taxam, PRÉconceituosamente, como uma simples bandinha de garagem com musiquinhas pré-adolescentes.

Mas o Forfun mudou, e perdeu muitos fãs por conta disso, na era pós-CD Polisenso. Contando com novas influencias misturaram Rock, Reggea,Música Eletrônica e conhecimento histórico/social para criar uma nova banda, que da antiga só tinha o nome. O Forfun de hoje é ainda teoricamente uma banda de pop rock, mas para muitos fãs é uma banda de reggea, ou da classificação vazia de “musica alternativa”. Para mim eles perderam rótulos e se tornaram algo a parte no cenário musical atual. Apesar de não serem nenhuns gênios em acordes ou terem vozes maravilhosas suas letras(novas) são genialmente compostas como críticas a essa sociedade, que merece tantas e recebe tão poucas. Darei apenas um dos muitos exemplos que poderia dar aqui, na música Panorama(CD Polisenso) que trouxe inspiração a esse artigo:

Vivemos rente aos trópicos
Onde as águas de março costumavam fechar o verão
Alimentamos Pensamentos utópicos
E usamos a biodiversidade como fonte de inspiração

Vejo uma senhora vendendo balas em frente ao metrô
No campo, máquinas substituem o agricultor
Imagino como era tudo no tempo do meu avô
Quando não existiam telefones celulares, garrafas pet e nem isopor

Dos bangalôs da Tailândia aos barracos do Vidigal
Dos iates em Ibiza aos soundsystems em Trenchtown
Há algo que move a todos com a mesma força vital
A busca da felicidade e a realização pessoal

Se canta com força, com força a vida
Mantém essa chama que há em você no peito contida
De relance me vejo pedalando um camêlo

Coqueiros e areia em primeiro plano
e ao fundo um navio petroleiro
Calotas polares derretem
e modificamos códigos genéticos em nome da ciência
o Homo se diz Sapiens, mas o que mais lhe parece faltar é a sapiência

Que o espaço-tempo é curvo, Einstein provou a partir de um lampejo
Realmente não sei se o que você chama de verde é a mesma cor que eu vejo
Alheia a isso, a maioria continua exaltando o luxo e a propriedade privada
Esquece que caixão não tem gaveta
E que dessa passagem, a aprendizagem é a única bagagem levada

Mas há crianças, há sorrisos, há o Maraca no domingo
O panorama não agrada, mas não há porque se desesperar
Pela simples noção de que é uma dádiva estar vivo
De que os caminhos são lindos, e é necessário caminhar


Bom, talvez o erro tenha sido meu. Como pude esperar que uma geração que idolatra musicalmente Lady Gaga ou que tem como hit do verão “I wanna be a bilionaire” poderia aceitar e ouvir uma banda que em suas músicas, seu blog e seus shows denunciam toda a miséria e problemática do sistema vigente, evocando a juventude a acordar da sua alienação e egoísmo e ter um pouco mais de amor ao próximo?

Me desculpem, erro meu.


“Navios negreiros não cruzam mais o oceano
Mas o trabalho e o dinheiro continuam escravizando
Impondo ao mundo a cultura do capital
Materialismo, acúmulo e o pensamento individual.”
(Escala Latina – Forfun)

3 comentários:

  1. Vale a pena conferir também: "Escala Latina"; "Viva La Revolucíon";"Metrópole";"Dia do Alivio";"Morada";"Siga o som" e outras que não me lembro agora...

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  2. Concordo com você que eles amadureceram e suas letras ficaram mais inteligentes. Mas eu escuto aquela vozinha fanha e só consigo me lembrar deles cantando "foi só mais uma história de verão...", dai eu tenho vontade de vomitar, é inevitável hahaha

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