Entre as árvores de minha infância,
escuto o
choro de seus lamentos,
enquanto
apodrecem e despencam
sobre a
terra seca pelo vento...
Sinto
escorrer as últimas gotas
da seiva d’alguma
alegria antiga
esquecida
entre o farfalhar
das folhas
que piso,
perdido
entre os caminhos
de minha estéril
e precoce
viuvez (re)sentida...
Como se vivo
fosse,
vago penando
neste lote
mórbido
neste
cemitério verde
desbotado,
onde me
enterro
velando sua
espera.
O sangue
corre por meus olhos,
gotejando
sua ausência,
clamando em
silencio
por versos
que confortem
o adeus
engasgado
o beijo
negado
o sorriso
pálido da despedida...
Até logo não
basta,
pois a dor
só aumenta,
enraíza e
aprofunda,
rasgando a
carne ferida
pela faca do
silêncio
que ecoa sua
partida.
Entre todas
as dores,
entre tantas
fincadas,
que a alma
sofre
(sofreu ou
sofrerá)
nenhuma é
tão cruel e desalmada
quanto a
saudade
que me causa
a tua falta.
Saudade.
Essa “palavra
triste”,
cafona e
desgastada,
é a única
que me veste
na nudez do
desterro de ti.
Nenhuma outra
palavra,
íntima ou
estrangeira,
nenhum aforismo
ou metáfora,
nenhum
pranto ou canção,
nenhum
desses versos
vindos no
vento,
seria capaz
e talvez nem
ela...
saudade...
na qual me enraízo
e me arrasto
às
profundezas
das vastas
miudezas
de tudo
em que você
falta.
Para essa saudade
que dilacera
minhas entranhas,
não há
remédios nem perdão,
não há
vingança nem consolo,
nem fumaça
nem reza,
nada rega e
nada seca,
apenas
árvores mortas,
na alma
desmatada,
floresta
derrubada
desmorona em
mim
por lágrimas
pesadas
que inundam,
neste dia de
sol,
a mente
desarmada
com seus
versos esquartejados,
sentimentos
silenciados
e
pensamentos suicidas...
Faltam
escudos e palavras,
faltam
lembranças e risadas,
danças ou
piadas,
que possam
preencher o vazio
da tristeza
desterrada
pelo chão
que escorrega
meu corpo e
alma
isolado(s)
de toda e
qualquer bonança,
deixando-se
inundar
afundar
afogar
sufocar
num mar de
pressa angustiada
onde não me
resta mais nada
a não ser
esperar.
Esperar e
escutar:
o pássaro
que chora ou gargalha,
escondido
entre as árvores mortas
de saudade.
Saudade
(canta o pássaro),
Saudade,
saudade,
bem te vi,
saudade...
Bem te vi,
saudando, ó saudade...
Mal te vi,
saúdo,
suado de
sal...
Sau-da-de!
O sol te
esconde,
saudade...
Saudade e
sal...
sal de
saudade...
Sórdida saudade...
Só saudade
e nada mais.
Y.G.S.O.
7 de novembro de 2021