segunda-feira, 17 de março de 2014

Encontro Familiar











Há encontrei apenas uma vez,
em alguma noite perdida
nas nuvens confusas
de uma memoria esquecida.
entre noites esquisitas e difusas
de lembranças deprimidas
misturadas, nostálgicas
ou melancólicas
de uma juventude passada...
que se passara sorrateira
e despercebida...

Há encontrei apenas uma vez,
mas naquela noite já sabia
que aquele encontro,
aquela noite
eu jamais esqueceria.
Ela viera
como nunca imaginei que ninguém
ou alguém
viria, e pronto.
Não precisei procurar,
conhecer,
esbarrar,
ver,
me apresentar
ou fingir confundir.

Ela chegou,
parou, na minha frente,
me olhou, simplesmente,
me vasculhou
de cima a baixo
e de baixo a cima.
Depois foi seu olhar que parou,
e afundou...
Afundou para dentro de mim.
Me encarou
e, com a profundidade
silenciosa daquele olhar
multicolorido, quebrou
toda e qualquer possibilidade
de evitar
que ela ...
de não deixar
ela
me controlar
de baixo a cima
e de cima a baixo
ao menos por um segundo.

Pois no segundo
seguinte
ela hesitou.
Senti no brilho ardente
de seu olhar, que este oscilou.
Por um segundo
aquele símbolo também afundou
e pude, eu também,
conhece-la até o canto mais fundo
que não deve se confidenciar a ninguém.

Afundei, ou melhor, mergulhei
naquele olhar instigante
e conheci
todos os sentidos agoniantes
daquela desconhecida.
A conheci por inteira
sem ao menos sua voz ouvir.
E foi então que eu percebera...
Foi então que eu a reconheci,
escondida e despercebida
em todos os cantos
de todas as minhas lembranças.
de todos os meus prantos
e de minhas esperanças,
de meus sonhos
de minhas brincadeiras de infância
e de minhas loucuras de adulto...
em cada verso deprimido,
em cada momento de ira,
em cada devaneio esquecido
de minhas paixões e comprimidos.
canções ou juízos,
em todas as ideias e discursos
em cada ressaca de saudade,
em cada gargalhada
ou ato de caridade...
Ela me parecia familiar.

Mas quando percebeu
que eu quase a reconhecia
bebeu um gole da minha cerveja
e se virou para sair,
sumir,
fugir, antes que eu
pudesse me lembrar
ou descobrir
porque ela
me parecia tão familiar.
Quem era ela?
O que era aquele olhar?
Da onde ela viera?
Onde poderia a reencontrar?
E como ela deslizava tão suave
e eternamente no ar?
Gritei.
Xinguei e supliquei
perguntas e duvidas
enquanto ela ia
flutuando entre nuvens e avenidas
em direção ao esquecimento.

Mas quando eu disse,
já aos prantos,
o quanto aquilo seria injusto,
pois nem seu nome eu sabia...
ela me olhou com um sorriso novo
e infantil, no rosto
e disse:
Meu nome é Hipocrisia.
E sumiu.


Niteroi, Morro do Estado, Março de 2014

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