“Porque eu escrevo palavras num papel
que não serão as mesmas que você
leu”
Meio-dia
em ponto.
E
já estou bêbado...
Mas
eu nem bebi!?
Apenas
aquele café com cigarro
de
todas as manhãs,
mas
abri o seu livro
zine
mata
de palavras,
fogueira,
e
queimei até o fim...
“Estar bem é sentir o
tempo”
e
já é meio-dia
e
ainda estou bêbado
de
poesia
“como de dentro da barriga de mamãe”.
“como de dentro da barriga de mamãe”.
Nem
sei quantos extremos gostei de sentir,
com
quantos olhos as palavras li,
com
quantos outros eus reencontrei
e
perdi
a
conta.
Mas
desde as primeiras páginas,
já
nasceu em mim
a
ânsia de agradecer
de
uma forma devida.
E
eis aqui esta carta,
travestida
de poema,
(provavelmente)
demasiado
longa
e
com versos tortos.
Perdoe-nos,
é
a ferrugem
de
quem há tempos
havia
abandonado a poesia,
obcecado
pela prosa.
“Nunca soube ser poeta
e agora
não comporto mais poesia”
Pode
ser só a vaidade de mamãe Oxum,
mas
me embebedei com sua nudez
e
precisei me despir também
para
agradecer.
Durante
anos me dediquei e amei a poesia
–
com uma disciplina que hoje não existe
e
que invejo naquele menino sonhador –
lendo
ou escrevendo
quase
diariamente
(mas
nunca gostei de meus poemas
ou
da maioria deles).
Veio
a política,
a
filosofia,
o
casamento,
a
preguiça,
as
obrigações,
o
rio da vida
e
me carregou
para
muito longe daquele guri
e
seus sonhos em versos.
Já
considerava a (minha) poesia
uma
brincadeira de criança
e
a (“real”) poesia (dos outros)
uma
lápide fria e triste,
ambas
enterradas na memória.
Mas
em seus versos
encontrei
vida,
e
também conceitos,
personagens,
alegria,
dor
e
paixão.
Me
revisitei
naquele
moleque
de
dezesseis anos
se
embebedando escondido
de
Federico e Virginia.
Mas
a cerveja agora é artesanal
e
não empoeirada e morta!
Produzida
por mãos amigas
e
sonhos irmãos.
Aqueles
versos perfeitos,
etílicos
e suaves,
(in)corporáveis e sagradamente profanos,
belicosos
e maternais,
eram
de alguém de carne e osso.
Tive
e tenho
muitos
amigos poetas
que
sempre li
pacientemente
e entusiasmado
uns
mais, outros menos,
mas
nunca me deixaram nu
bêbado
e vivo
como
nesta manhã.
-Escrevo
esta carta,
estes
versos
com
as mesmas mãos tremulas
de
alegria e insegurança
com
as quais tive a ousadia
juvenil
de
(tentar) escrever uma “Oração à Bethânia”
anos
atrás.
Escrevo
como tiete
que
vislumbra o ar
respirado
pela diva.-
Escrevo
para me apresentar e agradecer.
Nasci
e cresci nesse “mar de gente”,
nasci
e cresci sobre a lei:
“o desconhecido é ameaça até que se prove
o contrário”.
Nasci
e cresci indigente.
Mas
esta manhã
recebi
de presente
incontáveis
visitas
de
outros eus
esquecidos
(pela mente
mas
nunca pelo corpo).
Fantasmas
dos poetas que não fui
e
dos poemas que esqueci
me
visitaram esta manhã
mas
não vieram sozinhos...
Foram
trazidos por uma desconhecida,
talvez
a própria musa-Poesia,
que
me deu a conhecer
(pelo
menos)
duas
Jullys:
a
nua de papel
que
me despiu e embebedou
com
suas palavras
“num encontro mágico que não era
amoroso”;
e
a vestida, com roupa de santo,
que
eu já conhecia
(mas
não o suficiente,
talvez,
por
minha contra-cabreirice de indigente)
e
admirava
como
minha irmã-cambone...
mas
hoje me instiga,
me
deixa curioso e inebriado,
a
imaginar
quantas
infinitas deusas
e
passarinhos
vivem
e devém
neste
corpo-poesia?
(protegida
por folhas nas orelhas
e
vestida com “fios de rosa
daquelas que ainda tem espinhos”)
Mana, sua benção.
Mana, sua benção.
Para Jully
Wanny,
Irmã, te amo e
te admiro cada dia mais.
Gratidão eterna pelos bons encontros, palavras e sorrisos. Que sua poesia floresça sempre mais, colorindo estes tempos sombrios e nos potencializando a suportá-los com alegria.
Gratidão eterna pelos bons encontros, palavras e sorrisos. Que sua poesia floresça sempre mais, colorindo estes tempos sombrios e nos potencializando a suportá-los com alegria.
Yana
30 de outubtro
de 2018
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