“Contra
as paredes do triângulo,
em
direção ao fora,
eles
exercem a irresistível pressão da lava
ou
o invisível gotejamento da água.”*
Uma
gota ,
que
pinga,
sem
parar...
Um lamento,
que soluça,
sem chorar...
Uma rima,
que sofre,
sem cessar...
Um contagio,
que alastra,
pelo ar...
Um vírus,
que mata,
sem pensar...
Um
medo,
que prende,
sem curar...
Pandemia... Pandemônio...
Paladar!
Tristeza – Solidão:
Nosso Lar.
Na
cama vazia,
entre
dois,
um
abismo –
das
multidões fugidias
de
fantasmas aflitos
em
confinamentos vulcânicos...
Palavras
não ditas,
(dis)culpas
não perdidas,
dores
não (mais) sentidas
de (já) tanto sangradas
em
feridas (des)estancadas.
Feridas incuráveis
entre
cicatrizes
inseparáveis.
Fluxos
ou mágoas,
não
mencionáveis.
Quando tristeza
é vida
e a vida é o que míngua,
nos passeios
errantes das lembranças
de um amor que
finda.
Sem andanças ou
lágrimas,
enclausuradas em palavras
e desesperança.
Uma piada,
que cala,
sem ninguém rir.
Um
corpo,
que
cai,
sem
ninguém sentir
falta
dó
ou
saudade.
A
solidão final,
sem
solução vital,
do
Suicida,
no
chão frio,
-
entre fluxos diversos:
versos
de sangue,
palavras
miraculadas
e
lágrimas castradas –
da
rua abafada e deserta.
“Quem
não sente
nos
fluxos do seu desejo
a
lava e a água?
Afinal,
de que estamos doentes?”
O
corpo
que
falha...
(auto)trancafiado.
A
mente trabalha,
fluxo
amotinado...
emoção
atrapalha,
recai-se
no mimado
regime
de espetáculo:
corte
de navalha
ou
campo minado?
Mas nada falta à Palha
girando
dançando num todo encantado
de uma cura que valha
o valor do inestimado.
Objetos
parciais
da incógnita ilha...
Terreiro de versos abandonados,
onde a escrita chacoalha,
sobre o pensamento sentenciado
à loucura que se espalha
no coração fatigado...
jorrando plasma nas tralhas.
Não
é papo de viado!
Nem de canalha.
Não falo de pecado,
nem da paixão que se estraçalha...
Falo por nada,
nada devo ao Falo...
Ninguém a quem falar,
quando se sente sem ar,
quando já não se tem mais
para onde nadar,
resta-se trancafiado
na ilhota do paladar.
Orgânica, saudável... será?
Baba, merda e prazer,
eis a trindade gastronômica.
Comemos o fantasma,
molecular, invisível
temperado no ar...
Cozinhamos,
em fluxos de medo,
todo e cada,
abraço apertado
ou conversa fiada.
“Nada de
originário
nem de derivado,
mas uma deriva generalizada.”
Aquém e além
do fantasma molar,
velho conhecido
totalmente visível,
que no peito fez lar...
Que investe e insiste
em se (re)comunicar
por sombrios versos
repetidos ou roubados
- no infinito constante
de cada instante -
decalcados e recalcados,
descascados e requentados:
o modo de produção
do libido perverso...
Amor em tempos
de vírus?
Nem
vivo nem morto.
O
amor - ou será o tempo?
ou seremos
vírus? -
“está morto ou vivo,
não ao mesmo tempo,
mas cada um dos dois
ao termo de uma distância
que ele sobrevoa,
deslizando.”
Genealogizar o vírus,
transexuar o
amor,
inocular os
tempos,
conectar
disjuntos,
produzir
poética,
suspender
suspiros,
liberar fluxos de vida,
imunizar a Alegria...
“tudo dividir, mas em si mesmo”.
Mutar o si mesmo
ilimitativamente
em “disjunção livre”.
Eis, se não (h)a
cura,
uma medida
provisória,
aos fluxos patológicos
do, viril e
atemporal,
desamor atual:
Devir quarentena
não-triangular;
multiplicar
infinitos
em cada metro
quadrado
que se contraenclausurar;
anticastração do
vírus,
“nos curar da cura”
de quaisquer
fantasma,
curar-se do eu...
E (sobre) viver,
voar sobre o
viver,
deslizando
em fluxos de
alegria.
Mas,
afinal, de que estamos doentes?
Vila
Isabel, 1º de abril de 2020
[*
Os trechos entre aspas e em itálico são do livro O Anti-Édipo, de Deleuze & Guattari; (Trad. Luiz Orlandi; Ed.
34, 2011, pp. 94, 95, 106 ou 107).]