I.
Ele caminha lentamente
pelas ruas de sua infância...
Algumas coisas mudaram
Mas o bairro, mesmo assim, parece ter parado no tempo.
A violência aumentou, a padaria virou restaurante.
Porém o ar confortável e calmo continua o mesmo.
As árvores velhas de sua mocidade
continuam centenárias, mas não envelheceram nada
desde sua ultima caminhada.
As casas pequenas e detalhadas,
de arquitetura colonial e donas simpáticas,
estão um pouco mais amareladas,
assim como suas respectivas velhinhas,
porém continuam lindos castelos aos seus olhos.
O silencio das bicicletas
continua a soar com o vento fresco
sendo atrapalhado raramente por um carro
ou um cachorro.
Tudo parece igual.
Mas algo mudou.
O observador mudou.
O antigo menino alegre e saltitante
é reconhecido pelo sorriso das senhoras
que cumprimentam o rapaz triste e sozinho,
escrevendo algo num caderno,
fumando como o pai,
enquanto toma uma cerveja na calçada da antiga padaria.
II.
Banhado na fumaça
vagava nas lembranças...
Lembrava de como tudo era anos antes...
Antes dela, antes deles,
Antes da vergonha que já fora orgulho,
Antes do orgulho que já foi mistério,
Antes das idéias, antes das dúvidas, antes dos ideais...
Antes das lágrimas e das perdas...
Antigamente...
Quando tinha medo da chuva
e adorava cachorros,
Quando sua maior preocupação era qual revistinha comprar
ou qual balanço brincar.
Quando chorava ao ver um pombo atropelado
e ia a feira com a avó.
Quando sabia correr,
Quando sabia ser gentil,
Quando não tinha vergonhas
Quando não sabia o que era amar,
quando sabia sorrir.
"Malícias maluqueiras, e perversidades, sempre tem alguma, mas escasseadas. Geração minha, verdadeira, ainda não eram assim. Ah, vai vir um tempo, em que não se usa mais matar gente... [...] 'Maluqueiras – é o que não dá certo. Mas só é maluqueira depois que se sabe que não acertou!'” (Riobaldo Tatarana) *** "Podem dizer que isto é loucura, mas é somente a mais pura maneira de se amar." (Jorge Mautner)
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Versos de Grajaú
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