"Malícias maluqueiras, e perversidades, sempre tem alguma, mas escasseadas. Geração minha, verdadeira, ainda não eram assim. Ah, vai vir um tempo, em que não se usa mais matar gente... [...] 'Maluqueiras – é o que não dá certo. Mas só é maluqueira depois que se sabe que não acertou!'” (Riobaldo Tatarana) *** "Podem dizer que isto é loucura, mas é somente a mais pura maneira de se amar." (Jorge Mautner)
sábado, 22 de junho de 2013
Meu Muleque
As flores da primavera que vem crescendo em meio ao asfalto e caos da cidade dita Maravilhosa.
Hoje meu filho apareceu na TV.
O vizinho vascaíno que me contou.
E ele que sempre sonhou em ser ator,
quem sabe da novela das nove,
e agora aparecia no Jornal Nacional...
que alegria maior
uma mãe podia ter
de ver seu rebento
tão próximo do sonho
de infância?
Mas não há do que se orgulhar,
Maria,
seu muleque é um dos
vândalos
lá do centro da cidade...
Vândalo?
Meu filho?
Meu guri?
Meu muleque?
Jamais!
Ele foi pra rua,
com uma flor em uma mão
e uma pedra na outra...
punho em riste
e muitos sonhos na cabeça,
e na garganta.
Gritava por Paz, Liberdade, Igualdade...
Lutava pelo Poder do Povo.
Por um mundo,
e não apenas um país,
onde não houvesse exploração
nem violência.
Onde o homem
não fosse mais
seu próprio lobo,
como falaram
de meu muleque,
mas como
mais um
companheiro
de matilha.
Era por isso que
meu menino
marchava.
Por seus sonhos.
Levantava a flor
com o riste punho quando
os verdadeiros
vândalos
chegaram,
com suas bombas
de borracha
e tiros
de pimenta.
Meu filho
trocou
a flor
pela pedra,
que fez voar
na fumaça
no sentido
da repressão.
Pintou nas paredes
e nos muros
seus sonhos,
e gritos.
Gritou por Paz
e sonhou com ela,
mas não recuou
diante da violência
da ditadura
do capital
e lutou
com a garra de Davi
contra o Golias Burguês
e seus porcos fardados.
Com estilingues
e fogueiras de São João
meu guri
se tornou
mais um
na massa,
no povo,
na classe.
E naquela noite
a rua
era deles...
dos moleques
e dos utópicos...
a policia
fugia,
as bombas
eram chutadas
de volta,
ninguém recuava
e nem paravam de cantar.
Fizeram uma festa
e também uma guerra.
A adrenalina
inflamava
a alegria,
a emoção,
o arrepio...
mas
também
a raiva,
o medo,
a vontade de
vingança...
Arrancava
do fundo da garganta
o grito de revolta.
E impulsionava
os corpos,
a flor da pele,
pra cima dos porcos,
pra cima dos bancos,
dos empresários,
dos opressores,
dos inimigos...
Na TV
meu muleque
apareceu
colorindo
um prédio
cinzento
com uma linda
frase
vermelha
de medo
e coragem:
“Não é vandalismo,
é acerto de contas!”
Seguiam
em paz
e em festa,
até o Estado
e suas armas
chegarem.
Alguns lutaram
outros correram
outros quebraram...
Muitos choraram.
Todos gritaram.
Todos gritaram
e sentiram
o grito
de dor
e da raiva
que levou
meu filho
às manchetes
dos jornais.
Vândalo?
Ele só queria
realizar
seus sonhos.
e por isso
ainda
não voltou pra casa.
Eu sei
que ele
só voltará
quando
o mundo
com que
sonha
esteja
nascendo.
Mas para o mundo
de nossos filhos
nascer
é necessária
a morte
do mundo
de nossos
avós.
O mundo
dos verdadeiros
vândalos.
O mundo
do Estado,
da Burguesia,
do Capital,
da fome,
do Mc Donalds
da exploração,
da TV,
da Ditadura,
da Coca-Cola,
da violência...
dos vândalos.
E é por isso
que
meu muleque
está
lá fora,
na TV
e lá estará
enquanto
os vândalos
ainda estiverem
espalhando
suas bombas
de borracha
e porcos
de pimenta.
Niterói, Morro do Estado, 22 de Junho de 2013
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sexta-feira, 21 de junho de 2013
À Teixeira Fialho.
No ar,
uma neblina fria das montanhas,
envolve o caloroso abraço de amor.
A fumaça dos cigarros
é multiplicada pelo frio
que os mesmos tentam,
inutilmente,
expulsar,
junto com as lembranças
e magoas da cidade.
Um frio congelante e apaixonante.
Um vento gelado,
que desce as montanhas de Carlos e Milton,
tomando praças e ruazinhas de paralelepípedos,
entrelaçando mais e mais
aqueles corpos
embriagados de cachaça e caricias
estendidos ali
naquele mar de morros e gramados
contemplando o Universo.
Incontáveis estrelas flutuavam,
ambíguas,
sobre as cabeças
unidas pela grama,
apresentando-lhes o infinito.
Teixeiras (MG), 17 de junho de 2013.
uma neblina fria das montanhas,
envolve o caloroso abraço de amor.
A fumaça dos cigarros
é multiplicada pelo frio
que os mesmos tentam,
inutilmente,
expulsar,
junto com as lembranças
e magoas da cidade.
Um frio congelante e apaixonante.
Um vento gelado,
que desce as montanhas de Carlos e Milton,
tomando praças e ruazinhas de paralelepípedos,
entrelaçando mais e mais
aqueles corpos
embriagados de cachaça e caricias
estendidos ali
naquele mar de morros e gramados
contemplando o Universo.
Incontáveis estrelas flutuavam,
ambíguas,
sobre as cabeças
unidas pela grama,
apresentando-lhes o infinito.
Teixeiras (MG), 17 de junho de 2013.
segunda-feira, 10 de junho de 2013
E depois, Jacarepaguá.
As paredes e degraus
ao meu redor
gritam
o silencio esfumaçado
de cigarros escondidos
num passado distante
mas ainda,
sempre,
presente.
Meus sujos dedos,
do pé,
balançam
num tédio angustiante
de soluços
e gemidos
antigos
que escorrem pela escada.
Não sou o moleque de ontem,
nem o homem de amanhã.
Sou essa fumaça
branca e quieta
que caminha
confusa e tranquila
pelo ar,
ignorando as leis da Física,
dos homens
e de Deus.
Transbordando um silencio nostálgico
e um sorriso utópico.
Ateu por escolha
e sonhador por natureza,
cá estou eu,
mais uma vez,
nesses degraus,
escrevendo
tolos versos
sem sentido
de tédio
e marlboros vermelhos...
Apaixonado pela lua
e eterno amante da neblina,
sigo
confuso e tranquilo
por mais uma caminhada
pela madrugada de Jacarepaguá.
Rio, Jacarepaguá, 10 de Junho de 2013
ao meu redor
gritam
o silencio esfumaçado
de cigarros escondidos
num passado distante
mas ainda,
sempre,
presente.
Meus sujos dedos,
do pé,
balançam
num tédio angustiante
de soluços
e gemidos
antigos
que escorrem pela escada.
Não sou o moleque de ontem,
nem o homem de amanhã.
Sou essa fumaça
branca e quieta
que caminha
confusa e tranquila
pelo ar,
ignorando as leis da Física,
dos homens
e de Deus.
Transbordando um silencio nostálgico
e um sorriso utópico.
Ateu por escolha
e sonhador por natureza,
cá estou eu,
mais uma vez,
nesses degraus,
escrevendo
tolos versos
sem sentido
de tédio
e marlboros vermelhos...
Apaixonado pela lua
e eterno amante da neblina,
sigo
confuso e tranquilo
por mais uma caminhada
pela madrugada de Jacarepaguá.
Rio, Jacarepaguá, 10 de Junho de 2013
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sexta-feira, 7 de junho de 2013
Paisagem - Vinicius de Moraes
Subi a alta colina
para encontrar a tarde
entre os rios cativos
a sombra sepultava o silencio.
Assim entrei no pensamento
da morte minha amiga
ao pé de grande montanha
do outro lado do poente.
Como tudo nesse momento
me pareceu plácido e sem memória
foi quando de repente uma menina
de vermelho surgiu no vale correndo, e correndo...
Saravá!
para encontrar a tarde
entre os rios cativos
a sombra sepultava o silencio.
Assim entrei no pensamento
da morte minha amiga
ao pé de grande montanha
do outro lado do poente.
Como tudo nesse momento
me pareceu plácido e sem memória
foi quando de repente uma menina
de vermelho surgiu no vale correndo, e correndo...
Saravá!
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Cigana
Uma menina sonhadora e carinhosa,
ou uma mulher livre e perigosa?
Uma misteriosa encarnação da arte...
Com dreadlocks cacheados
dançando sobre os ombros
e um bambolê rolando pelo corpo lindo,
ela desliza pela noite,
acima das montanhas, arranha-céus e barracas vermelhas...
Canta,
com gemidos e versos,
o belo som dos grilos...
ressoando todas as noites,
entre as estrelas, aldeias e serras,
palcos, faróis e sorrisos da lua crescente.
Canta e dança em meus sonhos,
abraçando minhas ilusões
e beijando-me com um hálito quente,
de cigarro e cerveja,
tesão e amizade,
paixão e arte.
Brinca de malabarismo
com minhas certezas
e meus sentimentos.
Me encara com olhos profundos
e lábios carnudos.
Um sonho apaixonadamente ardente
de uma viagem fria e renovadora.
Uma encarnação da arte.
Um sonho.
Uma menina.
Uma mulher.
Um beijo.
Niterói, Gragoatá, 3 de Junho de 2013
ou uma mulher livre e perigosa?
Uma misteriosa encarnação da arte...
Com dreadlocks cacheados
dançando sobre os ombros
e um bambolê rolando pelo corpo lindo,
ela desliza pela noite,
acima das montanhas, arranha-céus e barracas vermelhas...
Canta,
com gemidos e versos,
o belo som dos grilos...
ressoando todas as noites,
entre as estrelas, aldeias e serras,
palcos, faróis e sorrisos da lua crescente.
Canta e dança em meus sonhos,
abraçando minhas ilusões
e beijando-me com um hálito quente,
de cigarro e cerveja,
tesão e amizade,
paixão e arte.
Brinca de malabarismo
com minhas certezas
e meus sentimentos.
Me encara com olhos profundos
e lábios carnudos.
Um sonho apaixonadamente ardente
de uma viagem fria e renovadora.
Uma encarnação da arte.
Um sonho.
Uma menina.
Uma mulher.
Um beijo.
Niterói, Gragoatá, 3 de Junho de 2013
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