quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Repelente Emocional

Seu nome era um tanto quanto estranho, Leirbag Nay, não que alguém se importasse. Leirbag sempre foi um trem desgovernado que passava por cima de todos que gostava, e pior, estava em rota de colisão.

Durante o primário as coisas eram relativamente mais fáceis, Leirbag sempre nadara (dentro d’água era o único lugar onde se sentia uma pessoa normal) e todos os anos de natação fizeram do seu corpo de criança o corpo de um pré-adolescente bem desenvolvido, com uma força física capaz de criar amigos e namoradinhas.

Quando começou a entrar realmente na pré-adolescencia Leirbag se mostrou preguiçoso e desistiu da natação. Junto com a piscina foram-se também os músculos e conseqüentemente os seus grandes amigos. Desapareceu também o sonho de ser uma pessoa normal. Sua adolescência foi marcada por um ciclo vicioso de amor e ódio. A cada novo ambiente que chegava Leirbag usava sua fala mansa e seu gingado para socializar e criar diversos amigos, em pouco tempo porém, sua fala mansa se revelava em calunias e seu gingado em covardia, as amizades viravam, primeiramente, bullying, depois ódio e brigas físicas, e, finalmente, desprezo.

Nem seus pais o agüentavam mais, sua casa era um antro de brigas, palavras sem peso de tanto repetidas, agressões físicas, orais e morais. Leirbag corrompia tudo que um dia gostara e não percebia. Botava a culpa nos outros e não sabia explicar o que acontecia. Não sabia porque o odiavam e se achava injustiçado.

Certa vez conseguiu uma namorada de verdade. Miap Ailuj era seu oposto: carinhosa, sincera, cheia de amigos verdadeiros, filha de pais amorosos e dona de lindos sorrisos puros e um bom coração. Miap tentou mudar Leirbag, mas acabou sendo mudada. Abandonou seus amigos, se tornou ciumenta possessivamente como ele, começou a brigar com seus pais e trocou os sorrisos do dia por lagrimas na madrugada. Um dia Miap cansou e mais uma vez Leirbag ficou apenas com sua solidão, o ódio alheio e um cigarro na mão.

Ao completar 18 anos começou a perceber o quanto repelia as pessoas, mesmo sem entender por que. Resolveu então por um fim no monstro que sempre convivera com pessoas inocentes. Comprou vergalhões e começou a trabalhar. Nunca havia se dedicado tanto a algo. Passava os dias trabalhando e as noites calculando o trabalho do dia seguinte. Sumiu dos cantos sombrios onde habitava... Ninguém mais se lembrava de sua existência.

Após 1 ano trancado no quarto seus pais perceberam que não viam o filho fazia algum tempinho. Sra. Nay resolveu, pela primeira vez em anos, ir até o sótão onde Leirbag morava dar uma olhada se “tava tudo ok”. Leirbag estava trancado numa gaiola gigante, dormindo profundamente ao lado de um lápis, alguns poemas rabiscados e uma poça de sangue. Sua mãe desejou boa noite e desceu para ver a novela das nove.

2 comentários:

  1. Eu vejo um pouco de Leirbag em cada um de nós que vez ou outra usa o repelente emocional ...

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  2. Incrível como você evolui a cada dia... sabe, esse tipo de texto nos ajuda a crescer e compreender melhor as coisas. Espero que tudo melhore. Te amo.

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