domingo, 29 de setembro de 2013

Fumaças de uma manhã de Domingo.




As duas fumaças
se encontram
e se misturam
e se confundem
no ar limpo
e calmo
de uma manhã
de domingo
ateu.

Enquanto,
há mais de dois mil anos,
os homens
e sobretudo
as mulheres
correm, lá fora,
a procura de uma
salvação...
Seja de Cristo
ou da Ambev...

Enquanto
eles correm
há mais de dois mil anos
aos domingos
de manhã,
eu estou aqui,
parado,
sentado,
com o sono
dos que acabam de
acordar
de ressaca
num domingo de manhã.
Contemplando
o mais próximo
que os homens
poderão
achar
de uma salvação:
a(s) fumaça(s).

Uma,
densa e preguiçosa,
sai do incenso.
Coberta por um cheiro
de alma
de vida
de sabedoria...
E por sons
melodiosos to
de mantras
sagrados e relaxantes
das cordas de uma
guitarra elétrica.

A outra,
rápida e furiosa,
vem do
cigarro
em minha mão direita.
Rasgando o ar
da manhã
dominical
com outro cheiro
de morte,
de ódio
e de prazer...
O cheiro de uma ressaca,
num domingo de manhã
envolto
pelo doce som
do silêncio.

E as duas fumaças,
uma lenta e a outra
veloz,
uma pesada
como a sabedoria tímida
das idosas portuguesas
e a outra leve
como a vida
rápida e intensa
de um suicida
frustrado.
As duas brancas...
se encontram
se misturam
se confundem
ao pé da janela,
para tomar
juntas
e homogêneas
o vento forte
de uma manhã
de domingo
de primavera.



29 de setembro de 2013,
Morro do Estado, Niterói (RJ)

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