quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Bilhete Amarelo

Acordou com o sol lavando o rosto
e percebeu que estava só...

Colocou café na cafeteira,
Trocou de roupa,
Pegou o livro pra ler...

Havia um desenho novo na capa,
um daqueles papeizinhos amarelos
-onde chefes chatos deixam bilhetes truculentos-
A letra redonda e familiar
também deixara um bilhete,
nem um pouco truculento...

“Eu te amo, sabia?”

Com um sorriso o tirou da capa,
e colou por dentro,
não pra esconder,
não pra esquecer,
mas pra proteger...

Protegeu,
numa embalagem de lembranças boas,
e Colou,
por dentro do peito,
na primeira folha do coração...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Poetas distantes.

A noite vai amanhecendo

e o sono não quer acompanhá-lo


Desiste de rolar na cama.

Levanta. Caminha até a estante.

Escolhe um livro de poesias.


O degradê matinal começa a surgir

e aquele rapaz com ares de poeta

ainda está aprendendo

com o grande Poeta.


Começa a pensar em linhas e linhas...

Cartas e cartas...

Para agradecer ao seu ídolo.


Agradecer pela poesia,

pelos ensinamentos,

pela emancipação,

pela ideologia...

Agradecer simplesmente,

pelo passatempo Noturno.


Mas o mestre não está mais por aqui,

nem por ai, nem acolá...


O Poeta se foi,

antes mesmo do poeta

pensar em vir.


O garoto reflete sobre isso

e volta a ler,

pois acredita

que os versos que lê

voam

-coloridos de ternura e agradecimento-

de encontro ao autor,

seja lá onde esteja.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Os dias inúteis - Pablo Neruda

"O mau tempo me tirava os desejos de sair, e à medida que os dias corriam eu ia ficando mais sozinho. Nas tardes, ninguém me vinha procurar e -sem livros- as horas resvalavam sobre a minha absorta inatividade.

Às vezes uma angústia malévola me atirava, feito nó, à cama. A chuva caía, densa e longamente; os ventos roncadores desciam dos serros; e a luz do crepúsculo se afligia como uma moribunda, atrás da janela que dava para o rio."

O Rio Invisível - pág. 171


Obrigado, mais um vez, Pablo,
por traduzir meu interior em suas palavras.

Yan.






domingo, 12 de dezembro de 2010

Mais um domingo...

O dia começou mal,
como um furto na areia,
poucas e pequenas ondas no mar
e lágrimas nas portas dos olhos.

Mas de repente,
do outro lado da rua,
a amada surgiu
acompanhada de um sorriso
e do sol, que das nuvens desviava.

No meio de um beijo,
começou a chover areia...
uma dupla de amigos que aparecia...
que saudades de vocês...

eles se multiplicaram.

Surgiu até uma bola,
além de vários mergulhos,
nas areias das ondas,
estas que por acaso,
também apareceram pra festa...

Uma festa ensolarada,
e molhada,
com som de gargalhada
e gosto de água salgada.
No fim do dia a pele ardia,
os olhos esqueciam das perdas materiais,
os lábios já sentiam sua falta
e os dentes voltavam pra saudade.

Mas o dia,
que começou com som de enterro,
terminou com falso sentimento de férias,
mas hoje ainda é domingo...

Amanhã vou vê-los,
mas não serão os mesmos,
no lugar das sungas, bikinis e bermudas,
calças jeans,
no lugar dos sorrisos,
nervosismo.

Mas só durante uma semana,
depois chapéus voarão
e todos os dias serão paradoxos dominicais...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Reflexões de uma Costela

De longe te vi esperando. Estava ascendendo um cigarro, como sempre, enquanto eu tentava esconder o cheiro do meu. Sentamos na mesa de sempre. Pedimos dois chopps e a costela de sempre. O garçom é novo. Você começa a falar. Reclama do meu cabelo. Reclama da atenção que tenho dado a vocês. Reclama do trabalho. Reclama do relacionamento. Reclama do dinheiro. Reclama que cheguei atrasado. Finjo interesse. Coitadinho, um injustiçado mesmo... e eu tão irresponsável.

As reclamações parecem ter cansado. O silencio começa a incomodar. Você parece inquieto. Mais dois chopps, por favor. O bebê da mesa ao lado é tão fofo. Uma gracinha realmente. A costela está demorando, não? Confiro o celular, os minutos foram acrescentados em três. Vou ao banheiro. Vai lá.

Lavo o rosto. Olho pro espelho. Vejo um rapaz de cabelo despenteado, sandália de couro, bermuda cargo e uma blusa do Bob Marley. Uma pseudo-barba ridícula começa a crescer defeituosa e o deixa mais novo ainda. Sorrio ao lembrar-me da sua saudação: “não podia ter posto uma roupa melhorzinha, não?”. O sorriso se apaga. Percebo o quanto o rapaz a minha frente é parecido com você.

Volto à mesa. A costela ainda não chegou. Os chopps foram renovados. O silencio companheiro só é interrompido pelo choro do bebê. Não mais tão fofo. Agora realmente está demorando. Você começa a se irritar, como sempre. Foram matar o animal?

A costela finalmente aparece. Você reclama da demora com o garçom. “Mas senhor, demorou os 20 minutos normais do prato”. Esse bebê não para de chorar? Você podia ter sido menos grosso. Demorou mas ta com cara bonita. O rapaz podia ser seu filho. Não precisava ter sido desrespeitoso.

Comemos como bárbaros. Acompanhados novamente do silencio, agora brigando contra o som dos talheres. Ufa, to cheio, vamos pedir uma saidera? Não, por hoje tá bom. Você ainda vai dirigir. Tá bom então, a conta, por favor. No carro o silêncio cresce. Lembro de como já fomos tão próximos. Tão parecidos. Não só fisicamente... Sorrio novamente. Agradeço ao silencio.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Algumas palavras

Dizem por ai que o melhor amigo do homem é o cão. Eu não gosto da cachorra daqui de casa. Eu gosto de escrever. Minhas melhores amigas são as palavras, assim como minhas piores inimigas.

Carlos Drummond de Andrade, que recebeu a alcunha de “o poeta das sete faces”, apesar de ser um dos maiores escritores brasileiros, quisá o maior, se mostrava humilde diante da palavra, pois essa sim é multifacial.

As palavras podem ser amantes carinhosas que vivem para nos dar prazer e felicidade. Podem formar versos rebuscados ou simples alagados em ternura e emoção. Podem formar uma carta de amor. Declarações de amor. Gritos de amor. Risadas de humor.

Podem ser uma arma revolucionaria. Palavras politizadas, com um cunho social, brigando pelos seus direitos no dicionário. Brigando para tornar o denotativo em conotativo e de reflexão geral lingüística. Lutando por um acesso geral da sociedade humana à si, para conscientizar todos que qualquer um tem o direito de se subordinar a elas, de tratá-las com carinho e respeito.

As palavras podem, porém, se tornarem grandes vilães. Podem ser usadas para humilhar, machucar, ofender, criar ilusões negativas ou até mesmo matar outras palavras. O poder de persuasão das palavras é tão grotesco e perigoso que são capazes de fazer pessoas que gostariam de trocar palavras da primeira face não trocarem mais nenhuma entre si.

Certa vez um grande personagem da ficção infanto-juvenil disse que “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Na vida real adulta essa frase é como um substantivo concreto. No caso do poeta suas responsabilidades são ainda maiores, pois ele tem o maior de todos os poderes: a palavra. Ele tem o dever de saber controlá-las, saber a hora de calá-las. O poeta não deve apenas ler, escrever e falar, ele deve sempre lembrar que é um ser humano como qualquer outro e precisa ouvir. Mesmo que as palavras que ouça rasguem seus ouvidos deve lembrar-se de sua função e não revidar. Ele sabe a hora e o modo de usar seu super-poder e não pode usá-lo para o mal.

Por isso não aceito tal adjetivo, nem o substantivo, para o pronome pessoal obliquo tônico da primeira pessoa do plural. Ainda não me considero um poeta porque não me acho digno de tal cargo por não saber usar a responsabilidade que ele traz: a de manejar as palavras de forma que elas não façam sofrer aquelas pessoas que eu amo e que me trazem inspiração. Quando souber controlar as faces de minhas palavras talvez possa aceitar tal título, mesmo que seja apenas mais um poeta ruim.

Queria escrever algumas coisas mais, mas as palavras fugiram.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Tempestade

Começam a mergulhar do céu
e afundarem em meu rosto,
Gritos roucos estremecem as árvores ao redor

A tempestade me envolve e provoca,
mas meus pensamentos estão com você
e na lembrança de como foi bom...
estou perdido na chuva,
de versos que desabam em minha cabeça.

As roupas se confundem com o corpo...
As lágrimas da lua se confundem com as minhas...
minhas lágrimas, que já tantas vezes
me fizeram companhia na volta pra casa...

Dessa vez são diferentes,
sorriem,
as lembranças são reais
e a lua dança comigo,
eu na chuva, ela entre as nuvens...

Comemoramos,
pelo fim de semana perfeito,
sem brigas, sem outras lágrimas...
Só eu, você, Lennon e o mar.

“Half of what I say is meaningless
But I say it just to reach you…”