terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Algumas palavras

Dizem por ai que o melhor amigo do homem é o cão. Eu não gosto da cachorra daqui de casa. Eu gosto de escrever. Minhas melhores amigas são as palavras, assim como minhas piores inimigas.

Carlos Drummond de Andrade, que recebeu a alcunha de “o poeta das sete faces”, apesar de ser um dos maiores escritores brasileiros, quisá o maior, se mostrava humilde diante da palavra, pois essa sim é multifacial.

As palavras podem ser amantes carinhosas que vivem para nos dar prazer e felicidade. Podem formar versos rebuscados ou simples alagados em ternura e emoção. Podem formar uma carta de amor. Declarações de amor. Gritos de amor. Risadas de humor.

Podem ser uma arma revolucionaria. Palavras politizadas, com um cunho social, brigando pelos seus direitos no dicionário. Brigando para tornar o denotativo em conotativo e de reflexão geral lingüística. Lutando por um acesso geral da sociedade humana à si, para conscientizar todos que qualquer um tem o direito de se subordinar a elas, de tratá-las com carinho e respeito.

As palavras podem, porém, se tornarem grandes vilães. Podem ser usadas para humilhar, machucar, ofender, criar ilusões negativas ou até mesmo matar outras palavras. O poder de persuasão das palavras é tão grotesco e perigoso que são capazes de fazer pessoas que gostariam de trocar palavras da primeira face não trocarem mais nenhuma entre si.

Certa vez um grande personagem da ficção infanto-juvenil disse que “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Na vida real adulta essa frase é como um substantivo concreto. No caso do poeta suas responsabilidades são ainda maiores, pois ele tem o maior de todos os poderes: a palavra. Ele tem o dever de saber controlá-las, saber a hora de calá-las. O poeta não deve apenas ler, escrever e falar, ele deve sempre lembrar que é um ser humano como qualquer outro e precisa ouvir. Mesmo que as palavras que ouça rasguem seus ouvidos deve lembrar-se de sua função e não revidar. Ele sabe a hora e o modo de usar seu super-poder e não pode usá-lo para o mal.

Por isso não aceito tal adjetivo, nem o substantivo, para o pronome pessoal obliquo tônico da primeira pessoa do plural. Ainda não me considero um poeta porque não me acho digno de tal cargo por não saber usar a responsabilidade que ele traz: a de manejar as palavras de forma que elas não façam sofrer aquelas pessoas que eu amo e que me trazem inspiração. Quando souber controlar as faces de minhas palavras talvez possa aceitar tal título, mesmo que seja apenas mais um poeta ruim.

Queria escrever algumas coisas mais, mas as palavras fugiram.

Um comentário:

  1. Desculpa não estar aqui sempre, como você merece. Sei que não tem desculpa, então de tempos em tempos tento compensar com umas e outras palavras repitidas. Bom, só consigo pensar em uma agora: incrível.

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